sábado, 6 de abril de 2013

Quarenta


Quarenta é um número enigmático. Às vezes misterioso outras vezes obscuro.
Jesus passou quarenta dias no deserto. Segundo o Novo Testamento este retiro foi para preparar-se para a suposta missão a ele destinada.
Três vezes quarenta é a idade que Moisés morreu e o Senhor não lhe deu à graça de entrar na Terra Prometida, após vaguear durante quarenta anos no deserto, após a fuga da escravidão no Egito.
O comportamento do povo era tão ruim que Deus ficou desgostoso e pensou em destruir o mundo por causa da perversidade humana. Ninguém prestava, mas o Senhor lembrou-se de um homem justo e honesto. Esta história o mundo judaico-cristão conhece. Noé construiu a arca e preservou as espécies.
Ali Babá e os Quarenta Ladrões é um conto que faz parte do livro “As Mil e uma Noites”. Esta história se passa na Arábia, antes de Maomé.
Sempre que se fala em Ali Babá, o primeiro pensamento é relacioná-lo como chefe dos quarenta ladrões. Ele não era o chefe e nem era ladrão. Ali Babá era um lenhador árabe e honesto. Um dia no meio da mata onde ele cortava as árvores, para seu sustento, ele encontrou uma caverna. Aquela gruta tinha a porta mágica, como todos sabem. Lá dentro o tesouro que os quarenta ladrões roubaram.
Até a este ponto nada de errado como a conduta de Ali Babá, mas também é neste ponto que começa o lado errado na vida dele. Assim que os ladrões saíram, ele pronunciou aquela palavra mágica, entrou na caverna e levou parte do tesouro. Talvez ele tenha pensado que achado não é roubado, mas é.
Seu irmão, Cassin, que era rico, questionou esta riqueza inesperada. Ali Babá contou a seu irmão tudo sobre a caverna. Cassin foi até a caverna pegar um pouco do tesouro. Empolgado em pegar mais e mais, esqueceu a aquela palavra usada para abrir e fechar a porta. Não conseguiu sair. Os ladrões chegaram e o mataram. Ali Babá resgatou o corpo e lhe deu o devido funeral, mas passou a ser perseguido pelos quarenta ladrões.
A história termina com a morte de todos os ladrões e Ali Babá ficou com o tesouro roubado e com boa posição social. Não foi preso e nem indiciado.
Na utopia do socialismo e comunismo algo semelhante acontece. Também acontece no cotidiano das pessoas. Em nível estadual ou federal pouco dá para enxergar. Uma cortina de fumaça virtual impede que vejamos os escândalos e a distribuição de cargos, muitos deles criados somente para atender a clientela dos partidos. Criar despesas desnecessárias na administração pública é o mesmo que Ali Babá fez. Apropriar-se do tesouro que deveria estar à disposição das necessidades da maioria do povo pobre e sem cultura. Povo pobre e sem cultura nunca reage. E os governantes sabem disto.
Quando um governante cria uma pasta destinada à propaganda, bom sinal não é. Propaganda é uma coisa, publicidade é outra. Publicidade induz as pessoas a comprar sal, por exemplo, porque serve para temperar os alimentos. Propaganda é convencer as pessoas que sal é doce. É isto que está acontecendo, em quase todos os segmentos da administração pública.
O povo tem a pele endurecida pela escassez de recursos. Se não tem remédio, toma chá. Se não tem comida, toma água temperada com sal e cebola, como se sopa fosse.
A Justiça existe. Não para os Ali Babás de nossos dias. Não estou me referindo ao escândalo do mensalão. Até o momento um verdadeiro fiasco. As sentenças do STF não serviram para nada. O Ali Babá nem indiciado foi e os quarenta indiciados, por supostas irregularidades, saíram praticamente ilesos. Refiro-me aos Ali Babás dos municípios e os mais de quarenta ladrões, que não foram mortos e vivem como sultões.
A ocasião faz o furto, o ladrão nasce feito. Frase de Machado de Assis.