Quarenta é um número
enigmático. Às vezes misterioso outras vezes obscuro.
Jesus passou quarenta
dias no deserto. Segundo o Novo Testamento este retiro foi para preparar-se
para a suposta missão a ele destinada.
Três vezes quarenta é a
idade que Moisés morreu e o Senhor não lhe deu à graça de entrar na Terra
Prometida, após vaguear durante quarenta anos no deserto, após a fuga da
escravidão no Egito.
O comportamento do povo
era tão ruim que Deus ficou desgostoso e pensou em destruir o mundo por causa
da perversidade humana. Ninguém prestava, mas o Senhor lembrou-se de um homem
justo e honesto. Esta história o mundo judaico-cristão conhece. Noé construiu a
arca e preservou as espécies.
Ali Babá e os Quarenta
Ladrões é um conto que faz parte do livro “As Mil e uma Noites”. Esta história
se passa na Arábia, antes de Maomé.
Sempre que se fala em
Ali Babá, o primeiro pensamento é relacioná-lo como chefe dos quarenta ladrões.
Ele não era o chefe e nem era ladrão. Ali Babá era um lenhador árabe e honesto.
Um dia no meio da mata onde ele cortava as árvores, para seu sustento, ele
encontrou uma caverna. Aquela gruta tinha a porta mágica, como todos sabem. Lá
dentro o tesouro que os quarenta ladrões roubaram.
Até a este ponto nada
de errado como a conduta de Ali Babá, mas também é neste ponto que começa o
lado errado na vida dele. Assim que os ladrões saíram, ele pronunciou aquela
palavra mágica, entrou na caverna e levou parte do tesouro. Talvez ele tenha
pensado que achado não é roubado, mas é.
Seu irmão, Cassin, que
era rico, questionou esta riqueza inesperada. Ali Babá contou a seu irmão tudo
sobre a caverna. Cassin foi até a caverna pegar um pouco do tesouro. Empolgado
em pegar mais e mais, esqueceu a aquela palavra usada para abrir e fechar a
porta. Não conseguiu sair. Os ladrões chegaram e o mataram. Ali Babá resgatou o
corpo e lhe deu o devido funeral, mas passou a ser perseguido pelos quarenta
ladrões.
A história termina com
a morte de todos os ladrões e Ali Babá ficou com o tesouro roubado e com boa
posição social. Não foi preso e nem indiciado.
Na utopia do socialismo
e comunismo algo semelhante acontece. Também acontece no cotidiano das pessoas.
Em nível estadual ou federal pouco dá para enxergar. Uma cortina de fumaça
virtual impede que vejamos os escândalos e a distribuição de cargos, muitos deles
criados somente para atender a clientela dos partidos. Criar despesas
desnecessárias na administração pública é o mesmo que Ali Babá fez.
Apropriar-se do tesouro que deveria estar à disposição das necessidades da
maioria do povo pobre e sem cultura. Povo pobre e sem cultura nunca reage. E os
governantes sabem disto.
Quando um governante
cria uma pasta destinada à propaganda, bom sinal não é. Propaganda é uma coisa,
publicidade é outra. Publicidade induz as pessoas a comprar sal, por exemplo,
porque serve para temperar os alimentos. Propaganda é convencer as pessoas que
sal é doce. É isto que está acontecendo, em quase todos os segmentos da
administração pública.
O povo tem a pele
endurecida pela escassez de recursos. Se não tem remédio, toma chá. Se não tem
comida, toma água temperada com sal e cebola, como se sopa fosse.
A Justiça existe. Não
para os Ali Babás de nossos dias. Não estou me referindo ao escândalo do
mensalão. Até o momento um verdadeiro fiasco. As sentenças do STF não serviram
para nada. O Ali Babá nem indiciado foi e os quarenta indiciados, por supostas
irregularidades, saíram praticamente ilesos. Refiro-me aos Ali Babás dos
municípios e os mais de quarenta ladrões, que não foram mortos e vivem como
sultões.
A ocasião faz o furto,
o ladrão nasce feito. Frase de Machado de Assis.