Final de ano tudo se
repete. As festas fazem imaginar que os problemas acabarão com o ano que se
finda. Como o ano é novo, não carrega nada em sua bagagem. Apenas a esperança
que tudo será melhor. Seria bom se a realidade fosse outra. Acaba o ano, acabam
os problemas.
Fazendo uma
retrospectiva nos artigos que escrevi sobre a Ação Penal 470, que
pejorativamente é chamado de “Mensalão”, visto que, no início dos fatos não
havia ação ajuizada, eu escrevi que pegaram os quarenta ladrões, mas não pegaram
o Ali Babá.
Quando o julgamento
começou sem o indiciamento do Ali Babá, comentei que era hora de escolher os
sabores das pizzas, porque a sentença seria dada em alguma pizzaria. Imaginava
que seria numa pizzaria em São Bernardo do Campo e nunca em alguma sala do
Supremo Tribunal Federal.
Passado algum tempo,
durante o julgamento, cheguei a pensar que tinha errado no meu prognóstico
sobre a sentença e passei a acreditar que haveria condenação. O tempo é
corrosivo e apaga o passado.
Foram condenados. E daí?
Para uma pessoa honrada, só o fato de ser indiciado já é motivo para
envergonhar-se. Exceto se foi por injúria, perseguição e outros atos políticos
utilizados para perpetuação no poder e tentar esconder desvio de dinheiro e
corrupção, muito comum nas três instâncias do Poder Executivo.
Em agosto de 2004,
Fernando Collor deu uma entrevista à Folha de S. Paulo, onde afirmou que o
“Delúbio Soares é muito mais abrangente” do que PC Farias. Disse também que,
por causa do Delúbio Soares, Luiz Inácio perderia o mandato, do mesmo modo que
ocorreu com ele em 1992.
Quem derrubou Fernando
Collor não foram os jovens com caras pintadas e nem o Congresso Nacional. Foi a
imprensa que denunciou os atos irregulares de seu governo. Por que Fernando
Collor caiu e Luiz Inácio não? A resposta é de conhecimento público. O
presidente deposto não vendeu seu governo ao Congresso Nacional e nem aliciou a
imprensa. Luiz Inácio comprou o Congresso e aliciou a imprensa.
Quando o governo quer
desviar o foco das atenções sobre sua administração ou de seus associados, ele
cria um fato novo. Atualmente o bode expiatório é a “Lei Seca”. Com sérias
denúncias que envolvem Luiz Inácio à quadrilha do Planalto, parte da imprensa,
sobretudo o rádio e a televisão dão espaço às barreiras que a Polícia faz para
verificar se o motorista ingeriu bebidas alcoólicas. Quem fez esta lei foi um
político. Beber é uma coisa, estar embriagado é outra, porém o policial é
obrigado a cumprir a ordem, mesmo que o condutor não esteja embriagado.
Um dos ministros do STF
disse que as denúncias sobre o envolvimento de Luiz Inácio aos escândalos do
mensalão são motivos suficientes para que se iniciem investigações sobre o
caso. Seguramente não haverá investigações e se houver, acabará em pizza.
Voltando à pizzaria do
STF, existe uma saída “honrosa” para que os condenados da Ação Penal 470 não
sejam presos. Basta modificar o Código Penal. Muda-se a pena de prisão aplicada
aos crimes de corrupção ativa e passiva, improbidade administrativa e outros
atos irregulares, para pena de multa. Sou leigo em direito, mas diz-se que lei
posterior não se aplica aos casos já julgados anteriormente, senão em benefício
dos réus. Ninguém da quadrilha vai ser preso, somente o motorista que tomou
duas latinhas de cerveja.
Existem políticos bons,
mas estes nunca são lembrados e nem reconhecidos. Político é uma bactéria
nociva infectada por um vírus de origem desconhecida. Desde os primórdios tem
sido assim. Não há antídoto que livre o povo destes agentes.
O ano acabou os
problemas não.