segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Debate

Há muitos anos atrás havia um programa, na extinta TV Tupi, chamado “Um Instante, Maestro!”. O apresentador era o polêmico Flávio Cavalcanti, que tinha um corpo de jurados igualmente polêmicos. O formato do programa foi lançado pela TV Tupi, passou por outras emissoras e terminou no SBT com a morte de Flávio Cavalcanti.

Flávio Cavalcanti se tornou famoso pela sua fala agressiva, beirando a falta de bons modos. Suas críticas, bem como de seus jurados, eram severas. Os espectadores se dividiam. Para alguns era uma cena patética. Para outros um resgate do bom senso. Se a música que estava sendo ouvida para receber crítica fosse ruim, após a fala veemente agressiva, o apresentador quebrava o disco.

Naquela época nossa região só recebia o sinal da TV Tupi. Única opção. Era como assistir sempre um jogo do Corinthians. Uma parte torcia pelo Corinthians e o resto do mundo contra. Embora minhas músicas preferidas tivessem sido compostas no século dezenove, eu também ficava dividido. Além das eruditas, gosto de ouvir as grandes orquestras, serestas, chorinho e não deixo de ouvir músicas sertanejas raízes. Razão por ora concordar ora não.

Sérgio Bittencourt era um dos jurados. Além de jornalista era filho de Jacob do Bandolim, de onde adquiriu cultura musical. Numa de suas críticas às músicas com letras sem conteúdo poético ele disse: quem não lê poesia não faz poesia. Esta frase de Sérgio Bittencourt deveria virar provérbio e diversificar. Quem não lê lei não saber fazer lei e por aí afora. É uma pena, mas poucos têm o hábito de ler.

Nas visitas virtuais que faço aos amigos pela rede, encontrei um provérbio na página da minha amiga Melk, que todo dirigente público deveria ler e jamais esquecê-lo. Diz o provérbio: o diabo ajuda a fazer, mas não ajuda a esconder.

Diz-se que o Ministério Público raramente abre processo contra alguma pessoa com base em notícias da imprensa. As razões são óbvias. Todos os dias centenas de processos contra autoridades dos poderes executivos e legislativos seriam ajuizados e os Tribunais já estão no limite. Tudo porque o diabo ajuda fazer, mas não ajuda a esconder. Então a imprensa descobre e informa.

Não há edição de jornal que não tenha uma informação de corrupção, desperdício de dinheiro público em obras desnecessárias, nepotismo, contratação de apadrinhados para acomodar promessas de campanha inchando a folha de pagamento e aparelhando a administração pública. Estas práticas são mais evidenciadas na administração municipal, porque o prefeito e os vereadores estão mais próximos da população. As opiniões se dividem. Como num jogo do Corinthians ou sobre a qualidade de uma música e nada mais. Não existe debate nem veredicto. O prefeito não governa. Reina despoticamente. Em algumas cidades o despotismo é tão marcante que, se alguma voz se levantar para contestar ou pedir explicações, iminente ameaças e retaliações esta voz sofre.

Suborno é um ato que faz vozes se calarem. Quando não aceitam suborno, ameaças passam a ser feitas por mensageiros, por telefone, por bilhete apócrifo, por atos de terrorismo ou por algum órgão fiscalizador.

No governo da Dona Presidente caiu tanto ministro que até parece uma reforma ministerial. Infelizmente não é reforma. É a imprensa atuando como o Quarto Poder, forçando a queda de pessoas despreparadas para exercer um cargo público. Como não existe debate nas quedas dos ministros tudo fica como trocar seis por meia dúzia.

O provérbio não pode ser esquecido: o diabo ajuda a fazer, mas não ajuda a esconder. Felizmente.

domingo, 30 de outubro de 2011

Sem Anos

Conhecimento e cultura só se adquirem ao longo da vida. Aniversário só se celebra a cada doze meses. Uma criança que não tenha vivido doze meses é uma criança sem anos. Obviamente tem meses de vida. Sua pele não tem marcas. Marcas na pele são sinais de anos vividos. Pode ser cicatriz simbolizando a dor ou aquelas dobras que mulher alguma gosta de ter. As rugas demonstram trabalho e experiência de vida.

As civilizações são reconhecidas e admiradas pela obras arquitetônicas ou literárias que deixaram ao longo de suas existências. Nem mesmo a força da natureza consegue destruir a cultura e edificações de povos que prezam pela memória de seus antepassados. A cidade de Lisboa é um exemplo. Foi praticamente destruída por um terremoto, mas a cultura de um povo a reconstruiu.

Pior que as intempéries, fenômenos que a natureza nos reserva, são os atos de pessoas que têm o poder de autorizar modificações ou destruir acervos arquitetônicos, praças que eram verdadeiros jardins. Não preservar a cultura é ignorar a memória de uma cidade.

Não existe em Birigui um órgão para preservar a memória arquitetônica e histórica. Se existe não funciona. Onde hoje existe um estacionamento na Rua Oswaldo Cruz existia uma mansão construída no período que o café era a nossa maior fonte de riqueza.

Se um marco arquitetônico foi destruído, dois outros também foram. Um demolido outro descaracterizado. Não foi só a estrutura física, mas a cultural também. Sina é uma fatalidade que supostamente pode acontecer. Parece uma sina. O povo de Birigui só escolhe governantes que destrói nossa cultura e nossos prédios históricos. O Cine Pérola só existe na memória de que a tem. Se a intenção era para dar lugar a um estacionamento, por que não um salão coberto? O outro marco descaracterizado foi o Cine São Nicolau. O que poderia ser o nosso teatro municipal é um salão a uso do comércio.

Em países que preservam a memória existem jardim com mais de cem anos. No cinqüentenário de Birigui a Praça Dr. Gama foi totalmente descaracterizada de seu projeto inicial. Cinqüenta anos depois outra reforma. Prefeitos querendo deixar suas marcas na história de nossa cidade.

Outro jardim descaracterizado do projeto inicial fica na Avenida Governador Pedro de Toledo. Na reforma que perdura até os dias atuais foi construída uma fonte luminosa suspensa. Se não me falha a memória era a única da América Latina. A atual administração municipal, por absoluta falta de cultura, destruiu uma peça de arquitetura invejável.

Se a retirada dos trilhos da ferrovia do centro da cidade foi por questões de encurtar distâncias e aceitável. Retirá-los por considerar um estorvo foi um ato de político medíocre e maior atestado desta mediocridade foi a demolição da estação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Só na memória dos antigos moradores pode se ler BIRIGUY estampado na parede da antiga estação, que foi o marco inicial de nossa cidade.

Dalton Silva continua trabalhando para o esporte, mas onde esta a Liga de Futebol que ele e outros apaixonados pelo esporte fundaram? Não existe mais campeonato amador de esporte algum.

A memória em parte é preservada. Bar da Sogra do Sr. Tertuliano Gonçalves, que ficava na Rua Sete de Dezembro, não existe mais, mas os filhos continua no ramo servindo a sociedade com muita dedicação.

Bairros são descaracterizados de seus projetos iniciais. Trocam o nome das ruas sem nenhum fundamento sustentável. Um exemplo é a Avenida das Palmas. Hoje tem outro nome. O nome Cidade Jardim para o bairro perdeu o sentido. Da mesma forma o Recanto dos Pássaros.

O que era um cartão postal de nossa cidade foi aterrado. O Lago “A Raquete” cedeu lugar a uma praça. Além de cartão postal poderia ser utilizado como represamento de águas pluviais.

A mídia não informou e talvez não exista projeto de revitalização da Bacia do Córrego Biriguizinho e nem um planejamento do sistema viário de nossa cidade. Nossa cidade aparenta ser um bebê. Sem anos.

Birigui fará cem anos, mas sem anos para celebrar uma história que se perdeu.

domingo, 16 de outubro de 2011

Cíclico

Física é a parte da ciência que estuda os fenômenos naturais. Os cientistas apenas os estudam e tentam explicar. A gravidade existe. A Lei da Gravidade foi criada para explicar a existência dela.

Os fenômenos sociais existem, mas não são naturais. São criados pela sociedade e tendem a ser cíclico. O modo de se vestir é algo semelhante. Um dia está na moda outro dia não. Este vai e vem se repete periodicamente.

Em alguns setores da sociedade está na moda enaltecer a conduta dos terroristas que promoveram luta armada contra o regime militar. O que esta mídia pró terrorista não diz, é que os militares endureceram o regime por causa da guerrilha. Contra uma força só outra.

Como tudo é cíclico, a história também é. Alguns fatos que antecederam o movimento de 1964 estão se repetindo. A esperança é que um novo golpe seja dado e a ordem seja estabelecida aprisionando bandidos e políticos corruptos. Por que um novo golpe? Porque golpe é um fenômeno social cíclico no Brasil.

Em 13 de março de 1964 João Goulart em um ato demagógico, pois assinou alguns decretos em praça pública na cidade do Rio de Janeiro, um dos decretos promovia a reforma agrária à beira de rodovias, ferrovias, rios navegáveis e açudes. Coincidência ou não os componentes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra têm o costume de acampar à beira das rodovias aguardando a hora para invadir propriedades alheias.

O golpe que depôs Jango não foi por sede de poder dos militares, mas uma reação que a sociedade pedia contra a corrupção e uma tendência para transformar o Brasil num país comunista. Nesta época Leonel Brizola fazia discursos inflamados pelo rádio chamando o povo para aderir à luta armada contra o governo estabelecido. O povo não atendeu a este apelo. Ninguém pode negar que o povo brasileiro tem uma sábia aversão ao comunismo. Dizem que é anedota. Socialista é o político que não tem coragem de dizer que é comunista. Anedota ou não pode ser uma realidade. Melhor ficar alerta.

A reação aos atos do governo João Goulart e de seus asseclas, sobretudo ao comício do dia 13 de março no Rio de Janeiro, começou em São Paulo. Uma sociedade das mulheres católicas de São Paulo mobilizou outras associações e com apoio do governador Adhemar de Barros foi realizado seis dias depois a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Exatamente no dia do padroeiro da família. Dezenove de março dia de São José.

Cerca de quinhentas mil pessoas saíram da Praça da República em São Paulo, seguiram pela Rua Barão de Itapetininga, Viaduto do Chá, Rua Direita chegando à Praça da Sé onde foi celebrada uma missa pela democracia. Em dois de abril cerca de um milhão de pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade na cidade do Rio de Janeiro.

Atualmente a presidência não edita mais decretos. Medida Provisória é o novo nome. No fundo é a mesma coisa. Governante promulgando leis como bem entende. Como é um ato ditatorial pode ser bom ou ruim. Os militares utilizaram de atos que cassaram os direitos políticos de deputados corruptos e de pessoas ligadas a partidos que apoiavam um alinhamento com países comunistas.

João Goulart decretou uma reforma agrária. Os líderes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra têm livre acesso ao Palácio do Planalto. Foi sancionada uma lei que aumenta o aviso prévio para demissão sem justa causa em até noventa dias. Medida que onera o sistema de produção. Atos populistas continuam sendo editados.

A história é cíclica. Ocorreu a Marcha contra a Corrupção. Qualquer semelhança é mera coincidência.

domingo, 2 de outubro de 2011

Mãos Limpas

Palavras antigas quase não se usam mais. O vocábulo “ordenado”, para se referir ao pagamento mensal do trabalho efetuado pelo funcionário, é um exemplo. Também mudou a fonte. Antes só o marido trabalhava fora de casa. Hoje a renda é familiar. Muitas famílias prosperam usando com parcimônia os seus recursos, às vezes parcos.

Falando em coisas antigas, não sei se esta frase é de domínio público ou tem autor. Um compositor de musica popular brasileira usou em uma de suas canções. “Não existe pecado no lado de baixo do equador.”

Esta prática de não punir políticos e pessoas que têm posses para custear bons advogados, vem de longa data. Como se sabe, na Europa dos velhos tempos, o clero e a nobreza tinha privilégios. Não respondiam por crimes da mesma forma que os homens comuns. Às vezes nem punidos eram.

Esta cultura que protege os poderosos veio para o Brasil na época do descobrimento. Na Europa tudo mudou. A lei é realmente para todos. Aqui a lei mudou, mas a prática protetora não. A Itália combateu a corrupção e o crime organizado aplicando a Operação Mãos Limpas. No Brasil o Superior Tribunal de Justiça desclassificou as provas contra o filho do presidente do Senado, tornando nulo o processo, favorecendo a corrupção e o clã da Família Sarney.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF foi criado para disciplinar e aplicar penas em ocorrências e suspeitas à atividade ilícita e lavagem de dinheiro. A Polícia Federal é um membro nato do COAF. O STJ alegou que os juízes de primeira instância não poderiam ter autorizado a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Fernando Sarney e de outros investigados apenas com base em informações do COAF, como noticiou a imprensa. Provavelmente a razão da impunidade esteja na sede do poder, no enriquecimento pessoal, para seus familiares e apadrinhados.

O Brasil é uma nação rica ou pobre? Se a analise se ater à renda familiar do povo, o Brasil é paupérrimo. Se o ponto de referência for as despesas custeadas pelo erário público com o Congresso Nacional, somos o país mais rico do mundo. E são estes dois extremos que mantém a impunidade e os privilégios.

As eleições vão se sucedendo. Programas e promessas não faltam nas campanhas. A maior parte dos eleitores e que dá vitória ao candidato é composta das famílias menos favorecida de recursos financeiros. O Maranhão da Família Sarney é um exemplo típico da nossa política.

No meio destes dois extremos estão pessoas esclarecidas e com renda suficiente para pagar a conta. É a classe média. “Letargia é um estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir”. A classe média parece que é incapaz de reagir e de se expressar. Razão por que nada muda.

As contas das obras dos Jogos Pan-americanos ainda não foram fechadas. Gastaram além do previsto. Ninguém foi punido.

Copa do Mundo em ano eleitoral. Em Mato Grosso, no município de Chapada dos Guimarães está sendo construído um teleférico para receber visitantes da Copa. Obra estimada em seis milhões de reais e que está sob suspeita de troca de favores entre empresários e políticos.

No Rio de Janeiro, o Maracanã está sendo reformado. O Hospital Miguel Couto não. Gastar dinheiro em obras desnecessárias parece ser uma propriedade dos governantes. Os prefeitos são campeões em fazer o que não precisa. Quando processados a sentença não sai antes de oito anos. Pena que os juízes não têm tempo para ler sobre o Banco do Vaticano e a Loja Maçônica P2.