domingo, 30 de outubro de 2011

Sem Anos

Conhecimento e cultura só se adquirem ao longo da vida. Aniversário só se celebra a cada doze meses. Uma criança que não tenha vivido doze meses é uma criança sem anos. Obviamente tem meses de vida. Sua pele não tem marcas. Marcas na pele são sinais de anos vividos. Pode ser cicatriz simbolizando a dor ou aquelas dobras que mulher alguma gosta de ter. As rugas demonstram trabalho e experiência de vida.

As civilizações são reconhecidas e admiradas pela obras arquitetônicas ou literárias que deixaram ao longo de suas existências. Nem mesmo a força da natureza consegue destruir a cultura e edificações de povos que prezam pela memória de seus antepassados. A cidade de Lisboa é um exemplo. Foi praticamente destruída por um terremoto, mas a cultura de um povo a reconstruiu.

Pior que as intempéries, fenômenos que a natureza nos reserva, são os atos de pessoas que têm o poder de autorizar modificações ou destruir acervos arquitetônicos, praças que eram verdadeiros jardins. Não preservar a cultura é ignorar a memória de uma cidade.

Não existe em Birigui um órgão para preservar a memória arquitetônica e histórica. Se existe não funciona. Onde hoje existe um estacionamento na Rua Oswaldo Cruz existia uma mansão construída no período que o café era a nossa maior fonte de riqueza.

Se um marco arquitetônico foi destruído, dois outros também foram. Um demolido outro descaracterizado. Não foi só a estrutura física, mas a cultural também. Sina é uma fatalidade que supostamente pode acontecer. Parece uma sina. O povo de Birigui só escolhe governantes que destrói nossa cultura e nossos prédios históricos. O Cine Pérola só existe na memória de que a tem. Se a intenção era para dar lugar a um estacionamento, por que não um salão coberto? O outro marco descaracterizado foi o Cine São Nicolau. O que poderia ser o nosso teatro municipal é um salão a uso do comércio.

Em países que preservam a memória existem jardim com mais de cem anos. No cinqüentenário de Birigui a Praça Dr. Gama foi totalmente descaracterizada de seu projeto inicial. Cinqüenta anos depois outra reforma. Prefeitos querendo deixar suas marcas na história de nossa cidade.

Outro jardim descaracterizado do projeto inicial fica na Avenida Governador Pedro de Toledo. Na reforma que perdura até os dias atuais foi construída uma fonte luminosa suspensa. Se não me falha a memória era a única da América Latina. A atual administração municipal, por absoluta falta de cultura, destruiu uma peça de arquitetura invejável.

Se a retirada dos trilhos da ferrovia do centro da cidade foi por questões de encurtar distâncias e aceitável. Retirá-los por considerar um estorvo foi um ato de político medíocre e maior atestado desta mediocridade foi a demolição da estação da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Só na memória dos antigos moradores pode se ler BIRIGUY estampado na parede da antiga estação, que foi o marco inicial de nossa cidade.

Dalton Silva continua trabalhando para o esporte, mas onde esta a Liga de Futebol que ele e outros apaixonados pelo esporte fundaram? Não existe mais campeonato amador de esporte algum.

A memória em parte é preservada. Bar da Sogra do Sr. Tertuliano Gonçalves, que ficava na Rua Sete de Dezembro, não existe mais, mas os filhos continua no ramo servindo a sociedade com muita dedicação.

Bairros são descaracterizados de seus projetos iniciais. Trocam o nome das ruas sem nenhum fundamento sustentável. Um exemplo é a Avenida das Palmas. Hoje tem outro nome. O nome Cidade Jardim para o bairro perdeu o sentido. Da mesma forma o Recanto dos Pássaros.

O que era um cartão postal de nossa cidade foi aterrado. O Lago “A Raquete” cedeu lugar a uma praça. Além de cartão postal poderia ser utilizado como represamento de águas pluviais.

A mídia não informou e talvez não exista projeto de revitalização da Bacia do Córrego Biriguizinho e nem um planejamento do sistema viário de nossa cidade. Nossa cidade aparenta ser um bebê. Sem anos.

Birigui fará cem anos, mas sem anos para celebrar uma história que se perdeu.