Liberdade de expressão
é bom. Tão bom que falar o que pensa pode ser uma arma. É com palavras que a
imprensa eleva uma pessoa ao patamar de ídolo e também com palavras as
destrona. A Imprensa tornou-se o Quarto Poder. Substituindo o Poder Moderador
ocupado pelo Imperador.
Particularmente, não
gosto da expressão: a voz do povo é a voz de Deus. Talvez por admirar o “Século
das Luzes” e ser um possível discípulo dos iluministas. Neste século muitas
reformas ocorreram na sociedade e nos Estados, tendo como ponto de partida o
Iluminismo. Os iluministas tinham posições contrárias às doutrinas da Igreja e
ao Estado, mas nunca pretenderam extinguir estas duas organizações, pois há pessoas
que precisam ser tutelados.
O povo, por ser
tutelado, não pode ter a voz que tudo decide. Os iluministas aceitavam a
opinião popular, mas não aceitavam ignorantes no poder. Como o iluminismo é
fundamentado na razão, nada mais lógico do que estabelecer uma pirâmide onde no
topo estarão as pessoas preparadas para governar.
O jornalista quando sai
a campo, houve a voz do povo. Este povo, que acorda todas manhãs para trabalhar
e conseguir o sustento da família, não está preocupado com o desfecho dos
processos sobre os bandos de deputados corruptos ou episódios que envolve o
Presidente da República. O povo está preocupado com o arrastão.
Arrastão? Não se trata
daquela rede que puxa os peixes para a orla, mas dos bandos que assaltam
residências, prédios, condomínios, caixas eletrônicas e pessoas nas ruas sem a
menor preocupação de serem rechaçados pela segurança interna dos condomínios ou
presos pela Polícia.
Mesmo não tendo
informação e cultura adequada, o povo usa a razão segundo suas necessidades. É
neste segmento que entra a terrível e talvez benéfica expressão: a voz do povo
é a voz de Deus. Nas ruas o povo tem saudade do Regime Militar, que os
opositores chamavam-no de ditadura. Nas entrevistas sobre o período militar,
que foi a suposta última ditadura, as pessoas não mencionam perseguições
políticas. O povo quer tutela. Quer sair pela manhã para trabalhar e não ser
assaltado. Voltar para casa e não encontrar sua casa furtada. O povo tem
saudade do período que os professores eram respeitados, a Polícia era
autoridade e os bandidos eram tratados como tal.
De certa forma estamos
vivendo numa ditadura. A ditadura dos desmandos. No Brasil não se chega ao
poder por capacidade intelectual ou conhecimento de administração da coisa
pública, mas por fraudes eleitorais. Os publicitários vendem os candidatos e os
eleitores compram. Neste processo os eleitores compram gatos por lebres.
O maior exemplo está no
Palácio do Planalto. A Chapa Dilma/Temer venceu as eleições, mas não poderia
ser diplomada. O auditor do TSE, após conferir as planilhas de gastos,
descobriu diversas irregularidades, recomendando a rejeição das contas. Na
prática, significava impedir a diplomação da Chapa Dilma/Temer, como determina
a lei. Sem aprovação das contas não haveria posse. Entretanto, o Sr.
Lewandowski mandou alterar o parecer. As contas foram aprovadas e a Chapa
eleita foi diplomada e tomou posse. A Presidente foi cassada, mas o Vice não. O
povo cumpriu seu dever e obrigação: votou. Os eleitos não cumpriram seus
deveres e obrigações. Cometeram crime eleitoral e não foram punidos. Tudo que
está acontecendo poderia ser evitado.
Arrastão! Estão
arrastando para o bueiro a dignidade do povo brasiliano, se é que este povo tem
dignidade, pois quem elege os agentes políticos é este mesmo povo. Povo que
legitima no poder quadrilhas, que estão sendo delatadas por corrupção.