sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Conselho

Conselho é o ponto de vista que uma pessoa tem. Conselheiro é aquela pessoa que dá o tal ponto de vista, na verdade um palpite. Não importa o assunto. O conselheiro tem sempre um conselho na ponta da língua para ser dado. Às vezes o conselheiro é um ser insuportável. Outras a salvação.

Conselho também pode ser um corpo consultivo. Um grupo de pessoas com habilidades tais que podem tomar decisões sobre os objetivos de uma empresa ou de um empreendimento.

Conselheiro é uma personagem antiga. Mas continua atual. O imperador tinha seus conselheiros. Bastava um ou dois palpites de um conselheiro para que o ministério caísse. Funcionava, pois o Brasil era do primeiro mundo.

A figura do imperador foi substituída pela do presidente. Não há a figura do conselheiro na república. É uma pena. Existe algo semelhante: o assessor. Semelhante não é igual. O conselheiro não ocupava esta função no conselho para dar apoio, e sim apontar os pontos positivos e negativos para que uma decisão fosse tomada. O assessor transparece a impressão de uma figura que está mais para empregado doméstico do que para um analista de projetos, cuja função seria informar a quem de direito, qual decisão deve ser tomada. Empregado doméstico serve. Não dá palpite. Muito menos orientações.

Conselho Deliberativo, como o nome diz, é um conselho que se reúne para debater sobre algum assunto, resolver impasses, e tomar decisões. Mas não executa. Quando se fala em Conselho Deliberativo, logo se pensa em time de futebol. Não serve para nada. A não ser para eleger o presidente e sua diretoria. Serve também para manter a casta de dirigentes de um clube. Em clube de futebol não é preciso fazer plebiscito para se manter no poder, como o presidente da Venezuela fez. Os sócios elegem o Conselho Deliberativo e os Conselheiros elegem a diretoria.

No Império do Brasil havia algo semelhante. O povo elegia os deputados. Havia somente dois partidos. O suficiente para aquele tempo e para os tempos atuais também. O partido com maior número de cadeiras formaria o Gabinete, que governaria o Império. Foram quarenta e dois anos de parlamentarismo. Nestes quarenta e dois anos Luiz Alves de Lima e Silva foi por três vezes Chefe do Gabinete de Ministros. Luiz Alves de Lima e Silva também recebeu três títulos: conde, marquês e duque de Caxias. Seus princípios eram alicerçados na Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Caxias é sinônimo de lealdade e honestidade.

O Conselho Deliberativo do Corinthians elegeu uma diretoria onde o presidente só não foi preso porque o Estatuto do Idoso o protegeu. Que estatuto é este que protege criminoso? Conselho Deliberativo é uma espécie de parlamento. No futebol não dá certo. Mas pode dar certo na administração pública.

A experiência do parlamentarismo no período do império deu certo. No período republicano não foi muito bem. Por duas vezes o povo recusou a implantação do parlamentarismo. Não acredito na sapiência do povo e sim na habilidade do político presidencialista, que ludibria os eleitores em todo pleito.

Como só é possível fazer a omelete com os ovos que temos, porque não trabalhar para vitalizar os Conselhos Municipais. Os Conselhos Municipais existem, mas não são deliberativos. Apenas aconselham infelizmente os prefeitos não os ouvem. Pouco importa, ao prefeito, as orientações do Conselho Municipal.

Cinqüenta por cento dos membros dos Conselhos Municipais são pessoas da sociedade civil organizada. Os outros cinqüenta por cento são nomeados pelo prefeito. Como se pode ver não é o mesmo modelo dos Conselhos Deliberativos de clubes de futebol. Pelo menos em se tratando dos membros da sociedade civil organizada. Quanto aos membros indicados pelo prefeito, pode haver algum lacaio.

A Revolução Francesa tirou o poder do rei. Por que não tirar o poder do político e concedê-lo aos Conselhos? O prefeito continuará executando as obras. Mas o poder é do Conselho. É hora de uma nova revolução. Sem guilhotina.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Peculiaridades

Na década de sessenta um filme chamou a atenção de todos. Em português chama-se “Mundo Cão”. O filme é um documentário de peculiaridades de povos, que nós, pessoas não estudiosas de comportamentos humanos, nem imaginávamos que existia. Naquela época o filme era proibido para menores de dezoito anos. Hoje, seguramente passaria nestes programas de televisão sobre cultura de povos de outras regiões.

Embora seja novela, a autora nos mostra diferenças significativas da cultura indiana em relação a nossa. A que mais chama a atenção é o respeito pelos mais velhos. O que será que pensam os indianos sobre uma lei que obriga dar direitos aos idosos. O que eles pensariam de nossos idosos, se eles soubessem que eles abusam deste direito individual?

Dentro do território brasileiro existem muitas nações. Estes povos têm organização social diferente da nossa. E dá certo. Em nenhuma aldeia indígena tem presídio. Que eu saiba. As peculiaridades da sociedade destes povos não nos dão incentivo de ir morar lá no meio do mato. Melhor viver aqui na selva de pedra.

Selva de pedras é bom porque não tem pinguela. Tem passarela com corrimão e ponte de concreto. Tem escola, mas também tem penitenciária. Não tem carreador ou trilha, mas tem ruas e estradas pavimentadas. Algumas sem buracos. A maioria com buracos. Peculiaridades da selva de pedras.

Há alguns anos escrevi um artigo sobre as peculiaridades da cidade de Birigui. Não me lembro de todas, pois não tenho o original. Uma destas peculiaridades foi a construção de um viaduto torto. Até aí tudo bem. Mas na administração seguinte o novo prefeito construiu duas pontes tortas. Talvez para superar o prefeito anterior. Sabe-se lá qual foi a intenção.

Outra peculiaridade de Birigui é trocar nome de ruas e de bairros. Talvez quem não mora em Birigui não sabe, mas existe um bairro aqui que se chama “Recanto dos Pássaros”. Todas as ruas, originalmente, tinham nomes de pássaros da nossa fauna. Hoje tem nome de ilustres “não sei quem”. Nada contra os atuais patronos das ruas, mas descaracterizou o bairro “Recantos dos Pássaros”.

Na Europa as ferrovias são os melhores meios de transportes. A população prefere viajar de trem. Confortáveis e seguros. Há semanas escrevi sobre os trens da Alemanha. Os trens da França são os mais velozes do mundo. E todos estes povos querem a ferrovia dentro da cidade, para não ter que viajar de suas residências até as estações para seguir viagem. Aqui mesmo no Brasil, onde a mediocridade dos políticos é reinante, a Estação da Luz fica no centro da cidade de São Paulo. Além da Estação da Luz, a Júlio Prestes também fica no centro e a Roosevelt no Brás.

Em Birigui existe um bairro que se chamava Vila Real. Hoje este bairro não se chama mais Vila Real, mas o povo continua dizendo que mora na Vila Real. Em outras palavras: um político propôs a troca de nome, mas o povo não aceitou e continua chamando o bairro de Vila Real. Nada contra a patrona.

Este bairro é separado da região central da cidade pela ferrovia. Coisas do Terceiro Mundo. Só para lembrar Terceiro Mundo é o mundo subdesenvolvido. Enquanto o Mundo Desenvolvido quer as estações por perto, na Vila Real um vereador está liderando um movimento, que não foi possível entender ao certo se é para tirar os trilhos daquela região, ou propor uma ligação com o centro da cidade, ou criar polêmica.

Retirar os trilhos é uma atitude de quem não enxerga o futuro. A Vila Real não tem fluxo de trânsito que justifique a construção de um viaduto ou de um túnel, para ligar o bairro ao centro.
Quem não consegue enxergar o futuro, pensa que o mundo acaba no horizonte. A retirada dos trilhos da ferrovia do centro de Araçatuba foi uma boa obra? Retirar as manobras sim. Os trilhos não. A retirada foi um ato político e não técnico. A ferrovia voltará a ser o meio de transporte mais eficiente. As peculiaridades do “Mundo Cão” não são mais lembradas.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Paciente

Há pessoas que não são nada pacientes. Por quaisquer motivos se irritam. Estes impacientes deixam transparecer, que sua vontade ou ponto de vista está acima dos outros mortais. Por outro lado, existem pessoas que não se abalam. Estão sempre serenos. Ser paciente é um ato de sabedoria.

Existe um outro grupo de pacientes. São aqueles que têm a saúde debilitada. Algumas doenças nós as procuramos. Outras, não sei quem que as manda. Talvez seja um ato da natureza. A natureza é um conjunto de normas imutáveis. E ela não perdoa qualquer tipo de mudança sem prévia consulta.

Ninguém perguntou se podiam derrubar todas as perobas e todas as aroeiras. Não existe mata ciliar. Muita gente não sabe o que é um pé de ingá. A natureza responde à altura.

Faz alguns anos que o setor de podas de árvores da cidade de Birigui convocou uma reunião para decidir sobre a poda de árvores. Não fui. Porque a pauta da reunião era poda. O motivo é pessoal. Sou contra a poda de árvores.

É próprio das pessoas. Quando surge um problema ou ele é colocado na gaveta, para o próximo administrador resolver. Ou ele é abandonado. Tanto as companhias de eletricidade como as prefeituras não têm interesse em criar uma alternativa para deixar as árvores frondosas como naturalmente deveriam ser. Optam por mutilá-las.

O meio ambiente é um paciente calado. Não reclama. Age. A resposta a estas agressões tem gosto de vingança. Em breve muitas praias deixarão de existir. O efeito estufa está aí. As áreas urbanas contribuem com uma média diária de quatro graus Celsius. A população de Birigui não cumpre e a prefeitura não faz cumprir uma lei que determina o plantio de árvore em frente a casa imóvel.

Em Birigui existe uma Associação que luta pela preservação do meio ambiente. A AGA já fez levantamento sobre nos córregos. O esgoto doméstico continua sendo lançado in natura no ribeirão Baixote. Em épocas passadas uma das administrações iniciou a construção de uma lagoa de tratamento. Felizmente não saiu a construção no local determinado. A área é muito próxima do perímetro urbano. Por que será que a administração optou por lagoa de tratamento?

O local ficou lá, na foz do córrego Biriguizinho, abandonado. Tão abandonado que a população achou-se no direito de despejar móveis, cachorro morto, entulho e todos e quaisquer objetos indesejáveis.

Nunca ninguém pensou em transformar aquela área num reservatório de água. Recentemente uma matéria da Folha da Região informou que aquele espaço servirá para receber entulho. E que depois de aterrado será criado um local para recreação. Recreação é uma necessidade para a população, mas a água é imprescindível. Poderia ser utilizada, tanto para tratamento e posterior consumo humano, como para uso em estado bruto para lavar as emporcalhadas ruas de nossa cidade. Visto que varrer com máquina não limpa nada.