Algumas questões estão
na linha divisória de uma interpretação filosófica ou aquela brincadeira
infantil de responder perguntas: Quem veio primeiro o ovo ou a galinha? O que
deveria ser para os governantes municipais: uma bela viola por fora ou o som de
uma viola afinada? Anárquico é estado de desorganização.
O Cardeal Richelieu
disse uma frase que deveria ser repetida todos os dias para que as autoridades
fizessem valer o real significado de seu cargo: “o direito ou o poder de
ordenar, de decidir, de se fazer obedecer.” Disse Richelieu: “Fazer uma lei e
não velar pela sua execução é o mesmo que autorizar aquilo que queremos
proibir.”
Ao invés de fazer
cumprir a lei, os governantes criam alternativas para executá-las. Algumas
delas são tão bem camufladas que, de vilão o administrador público tornar um
herói por realizar obras desnecessárias, porém bonitas aos olhos. Há cidades
que os hospitais, as santas casas de misericórdia têm instalações que estão
distantes dos padrões exigidos por lei. Entretanto, alguns administradores
públicos desviam a verba reservada para a saúde pública para construir prédios
e, neles instalar o atendimento médico.
Não há estatística a
respeito de quantas pessoas lêem jornal, mas numa cidade de cento e dez mil
habitantes deveria ter uma tiragem de pelo menos trinta mil exemplares. O
jornalista tem a função de informar, mas a fonte tem de chegar ao leitor. Uma
parte significativa da população, talvez uma esmagadora maioria, dá crédito de
bom administrador àqueles que constroem prédios para atendimento médico com
dinheiro da saúde. Da mesma forma rendem graças pela construção de prédios para
creches e escolas com verbas da educação. Tudo porque não lêem jornal.
Verbas para a saúde é
uma rubrica. Verbas para obras é outra. Uma vez que está escrito na
Constituição e na lei orgânica do município a obrigatoriedade de verbas
específicas para saúde e educação, as quais são porcentagens do orçamento, por
que não cumprir o que a lei estabelece?
Se a estatística está
correta, o povo está feliz da vida com a administração do seu prefeito e com a
Presidente da República. Corte de verba para saúde e desvios de recursos. Em
alguns casos artimanha administrativa. Em outros casos atos de corrupção, que a
Presidente chama de malfeitos. Para a maioria tudo está bem. Não só os
governantes, mas a população deveria ler todos os dias como se fosse uma oração
de auto-ajuda a frase do Cardeal Richelieu. Certamente os hospitais seriam
reequipados, os profissionais receberiam salário justo e o povo teria retorno
do imposto pago.
Na quarta-feira de
cinza do ano passado a jornalista Rachel Sheherazadi falou em seu programa de
TV dos malefícios que o carnaval trás. Disse que ambulâncias ficam à disposição
dos foliões, enquanto as famílias não têm assistência durante o ano todo.
Policiais fazem a seguranças do carnaval e durante o ano não há contingente
para atender as necessidades de segurança que a população precisa. Alguém tem
coragem de discordar desta jornalista?
Em São Paulo, baderneiros
impediram que a apuração do concurso das escolas de samba chegasse ao fim. Pouco
importa, sobretudo para quem não tem interesse em desfile das escolas, o que
importa é que a polícia vai investigar o caso. Para investigar um caso,
certamente deixará de investigar outros casos.
Pagamos impostos, mas
as ambulâncias e a Polícia ficam a disposição de eventos particulares. Liga das
Escolas de Samba e jogos de futebol. Anárquico é um estado de desorganização.