domingo, 27 de abril de 2008

Caráter

Caráter todos nós temos. É uma espécie de ácido desoxirribonucléico. Cada um tem o seu. Caráter é a forma peculiar de agir de cada pessoal. Esta peculiaridade é próprio de cada um. Pode ser para o bem. Pode ser para o mal. O conjunto destas qualidades boas ou ruins forma o caráter de uma pessoa.

Normalmente nós associamos caráter à boa índole. Quando uma pessoa é má, rancorosa, ladrão, assaltante, corrupto, terrorista, diz-se que não tem caráter.
Interessante. Nunca li. Nem ouvi dizer que existe político sem caráter. É certo. Não existe mesmo ninguém sem caráter. Nem mesmo político.

Leiam uma frase interessante do Millor Fernandes: “Eu pensava que eles estavam defendendo uma ideologia, mas estavam fazendo um investimento”. Esta frase se refere ao Jaguar e ao Ziraldo. Ambos vão receber uma pensão vitalícia de quatro mil reais por mês. Tudo porque a Lei permite pedir indenização para quem se julga ter sido perseguido no período da ditadura militar.

Naquela época todo mundo sabia que militar não brinca. Quem entrou na briga sabia que do outro lado estava as Forças Armadas. As Forças Armadas não defende o Governo. Defende o Brasil, segundo o ponto de vista do Estado Maior das Forças Armadas. O que intriga é que esta lei foi criada depois da anistia. Se houve anistia, o passado foi apagado. Se o passado foi apagado pela anistia, por que o povo brasileiro tem de pagar estas indenizações?

Quem concede estas indenizações é a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Órgão Administrado pelo governo, cujos membros se julgam perseguidos pelo regime militar.
Quem tem caráter ilibado não usa os órgãos governamentais para se enriquecer. Alguns nem se enriquecem. Contenta-se com as migalhas que caem da mesa farta do poder. É o caso de filhos de vereadores, cabos eleitorais, apadrinhados que estão empregados nas prefeituras e câmaras de vereadores sem concurso para ingressar no serviço público.

O comportamento depende do caráter? Um ou dois dias antes da partida entre o São Paulo contra o Palmeiras, eu estava no bar de um amigo esperando que me fosse servido o almoço.

Chegou um moço que fez aquelas tradicionais brincadeiras de um torcedor. Deu a entender que ele não era palmeirense, pois o dono do bar é. E as troças não enalteciam o Palmeiras. Logo depois chegou outro torcedor. Este era são paulino. Os três se divertiram falando de seus times.

Demorou algum tempo para se perceber que o primeiro torcedor era corinthiano. Três torcedores e nenhuma discórdia. Jamais estes três poderão ir juntos ao estádio. O caráter destes três torcedores aceita a opção de cada um torcer para a sua equipe de futebol. Lá no estádio os torcedores são apartados. Como gado. Boi preto de um lado e boi branco do outro. Como diz o ditado.

Rui Barbosa disse uma frase que todo político deveria refletir todos os dias: “Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que burrice é uma ciência”. Ciência facilmente reconhecida nas administrações municipais e nas Câmaras de Vereadores.

Menos de quinze por cento dos eleitores da cidade de Birigüi são filiados a um partido político. A estatística não diz quantos têm caráter ilibado. Nem é exigido para se filiar a um partido político.
Não será esta a hora de se pensar em um novo regime de escolha para nossos representantes na administração do Estado? Não se trata apenas do Poder Executivo, que administra. A mudança fundamental tem de ser feita no Poder Legislativo.

O que tem a ver corinthiano, palmeirense, são paulino, eleitores não filiados com caráter? O caráter destes três torcedores permite conviver fraternalmente torcendo por equipes diferentes. Os eleitores não filiados a partidos políticos não podem ser eleitos, mesmo sendo honestos, livres e de bons costumes.

O caráter destes três torcedores não convive com o caráter coletivo das torcidas que vão aos estádios. Porque lá não há esporte. Existe negócio.

As pessoas que não se filiam aos partidos políticos têm ideais. As pessoas que se filiam aos partidos políticos tem o partido como fonte de negócios.

O deputado Fernando Gabeira contraria tudo. É filiado a um partido político e têm ideais. Foi preso e exilado. Voltou e não entrou com nenhuma ação de indenização.

Queira o Senhor que não seja verdade. Diz-se que o Presidente da República recebe uma aposentadoria por invalidez. Ele perdeu o dedinho da mão esquerda. Porque ficou preso algumas horas, entrou com ação de indenização contra o Estado e recebe uma pensão mensal. Tendo apenas estas duas aposentadorias ficou rico.

Caráter é isto. Gabeira continua firme no seu ideal. O sindicalista também.