domingo, 2 de outubro de 2011

Mãos Limpas

Palavras antigas quase não se usam mais. O vocábulo “ordenado”, para se referir ao pagamento mensal do trabalho efetuado pelo funcionário, é um exemplo. Também mudou a fonte. Antes só o marido trabalhava fora de casa. Hoje a renda é familiar. Muitas famílias prosperam usando com parcimônia os seus recursos, às vezes parcos.

Falando em coisas antigas, não sei se esta frase é de domínio público ou tem autor. Um compositor de musica popular brasileira usou em uma de suas canções. “Não existe pecado no lado de baixo do equador.”

Esta prática de não punir políticos e pessoas que têm posses para custear bons advogados, vem de longa data. Como se sabe, na Europa dos velhos tempos, o clero e a nobreza tinha privilégios. Não respondiam por crimes da mesma forma que os homens comuns. Às vezes nem punidos eram.

Esta cultura que protege os poderosos veio para o Brasil na época do descobrimento. Na Europa tudo mudou. A lei é realmente para todos. Aqui a lei mudou, mas a prática protetora não. A Itália combateu a corrupção e o crime organizado aplicando a Operação Mãos Limpas. No Brasil o Superior Tribunal de Justiça desclassificou as provas contra o filho do presidente do Senado, tornando nulo o processo, favorecendo a corrupção e o clã da Família Sarney.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF foi criado para disciplinar e aplicar penas em ocorrências e suspeitas à atividade ilícita e lavagem de dinheiro. A Polícia Federal é um membro nato do COAF. O STJ alegou que os juízes de primeira instância não poderiam ter autorizado a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Fernando Sarney e de outros investigados apenas com base em informações do COAF, como noticiou a imprensa. Provavelmente a razão da impunidade esteja na sede do poder, no enriquecimento pessoal, para seus familiares e apadrinhados.

O Brasil é uma nação rica ou pobre? Se a analise se ater à renda familiar do povo, o Brasil é paupérrimo. Se o ponto de referência for as despesas custeadas pelo erário público com o Congresso Nacional, somos o país mais rico do mundo. E são estes dois extremos que mantém a impunidade e os privilégios.

As eleições vão se sucedendo. Programas e promessas não faltam nas campanhas. A maior parte dos eleitores e que dá vitória ao candidato é composta das famílias menos favorecida de recursos financeiros. O Maranhão da Família Sarney é um exemplo típico da nossa política.

No meio destes dois extremos estão pessoas esclarecidas e com renda suficiente para pagar a conta. É a classe média. “Letargia é um estado de profunda e prolongada inconsciência, semelhante ao sono profundo, do qual a pessoa pode ser despertada, mas ao qual retorna logo a seguir”. A classe média parece que é incapaz de reagir e de se expressar. Razão por que nada muda.

As contas das obras dos Jogos Pan-americanos ainda não foram fechadas. Gastaram além do previsto. Ninguém foi punido.

Copa do Mundo em ano eleitoral. Em Mato Grosso, no município de Chapada dos Guimarães está sendo construído um teleférico para receber visitantes da Copa. Obra estimada em seis milhões de reais e que está sob suspeita de troca de favores entre empresários e políticos.

No Rio de Janeiro, o Maracanã está sendo reformado. O Hospital Miguel Couto não. Gastar dinheiro em obras desnecessárias parece ser uma propriedade dos governantes. Os prefeitos são campeões em fazer o que não precisa. Quando processados a sentença não sai antes de oito anos. Pena que os juízes não têm tempo para ler sobre o Banco do Vaticano e a Loja Maçônica P2.