sábado, 29 de dezembro de 2012

Inversão


Final de ano tudo se repete. As festas fazem imaginar que os problemas acabarão com o ano que se finda. Como o ano é novo, não carrega nada em sua bagagem. Apenas a esperança que tudo será melhor. Seria bom se a realidade fosse outra. Acaba o ano, acabam os problemas.
Fazendo uma retrospectiva nos artigos que escrevi sobre a Ação Penal 470, que pejorativamente é chamado de “Mensalão”, visto que, no início dos fatos não havia ação ajuizada, eu escrevi que pegaram os quarenta ladrões, mas não pegaram o Ali Babá.
Quando o julgamento começou sem o indiciamento do Ali Babá, comentei que era hora de escolher os sabores das pizzas, porque a sentença seria dada em alguma pizzaria. Imaginava que seria numa pizzaria em São Bernardo do Campo e nunca em alguma sala do Supremo Tribunal Federal.
Passado algum tempo, durante o julgamento, cheguei a pensar que tinha errado no meu prognóstico sobre a sentença e passei a acreditar que haveria condenação. O tempo é corrosivo e apaga o passado.
Foram condenados. E daí? Para uma pessoa honrada, só o fato de ser indiciado já é motivo para envergonhar-se. Exceto se foi por injúria, perseguição e outros atos políticos utilizados para perpetuação no poder e tentar esconder desvio de dinheiro e corrupção, muito comum nas três instâncias do Poder Executivo.
Em agosto de 2004, Fernando Collor deu uma entrevista à Folha de S. Paulo, onde afirmou que o “Delúbio Soares é muito mais abrangente” do que PC Farias. Disse também que, por causa do Delúbio Soares, Luiz Inácio perderia o mandato, do mesmo modo que ocorreu com ele em 1992.
Quem derrubou Fernando Collor não foram os jovens com caras pintadas e nem o Congresso Nacional. Foi a imprensa que denunciou os atos irregulares de seu governo. Por que Fernando Collor caiu e Luiz Inácio não? A resposta é de conhecimento público. O presidente deposto não vendeu seu governo ao Congresso Nacional e nem aliciou a imprensa. Luiz Inácio comprou o Congresso e aliciou a imprensa.
Quando o governo quer desviar o foco das atenções sobre sua administração ou de seus associados, ele cria um fato novo. Atualmente o bode expiatório é a “Lei Seca”. Com sérias denúncias que envolvem Luiz Inácio à quadrilha do Planalto, parte da imprensa, sobretudo o rádio e a televisão dão espaço às barreiras que a Polícia faz para verificar se o motorista ingeriu bebidas alcoólicas. Quem fez esta lei foi um político. Beber é uma coisa, estar embriagado é outra, porém o policial é obrigado a cumprir a ordem, mesmo que o condutor não esteja embriagado.
Um dos ministros do STF disse que as denúncias sobre o envolvimento de Luiz Inácio aos escândalos do mensalão são motivos suficientes para que se iniciem investigações sobre o caso. Seguramente não haverá investigações e se houver, acabará em pizza.
Voltando à pizzaria do STF, existe uma saída “honrosa” para que os condenados da Ação Penal 470 não sejam presos. Basta modificar o Código Penal. Muda-se a pena de prisão aplicada aos crimes de corrupção ativa e passiva, improbidade administrativa e outros atos irregulares, para pena de multa. Sou leigo em direito, mas diz-se que lei posterior não se aplica aos casos já julgados anteriormente, senão em benefício dos réus. Ninguém da quadrilha vai ser preso, somente o motorista que tomou duas latinhas de cerveja.
Existem políticos bons, mas estes nunca são lembrados e nem reconhecidos. Político é uma bactéria nociva infectada por um vírus de origem desconhecida. Desde os primórdios tem sido assim. Não há antídoto que livre o povo destes agentes.
O ano acabou os problemas não.