sábado, 15 de dezembro de 2012

Cadeia


O bom jornalismo não publica falsas notícias, porém o jornalista pode criar fantasias em seus textos ou artigos. Talvez com o propósito de gerar polêmica.
Nos EUA, dia 30 de outubro é uma espécie de primeiro de abril daqui. Coincidência ou não, aproveitando que era o dia da mentira Orson Welles passou a narrar o texto de “Guerra dos Mundos”, pela Rádio CBS, a invasão da Terra pelos marcianos. O horário das 20 horas era de novelas, mas quem sintonizou após o início, acreditou que as notícias eram verdadeiras. A população ficou apavorada.
Em 2006, o PCC atacou São Paulo. Neste período a Rádio CBN mandou para o ar uma entrevista com Marcos Camacho, conhecido como Marcola. De lá para cá, esta entrevista circula repetidas vezes pela internet.
A entrevista começa com a seguinte pergunta: “Você é do PCC? Resposta: Mais o que é isto? Eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... Vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas. A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou alguma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a beleza dos morros ao amanhecer, essas coisas... Agora estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu só? Sou culto... Leio Dante na cadeia”.
Pouco mais pra frente ele disse que já leu mais de três mil livros, mas que seus soldados são estranhas anomalias do desenvolvimento torto do Brasil. Disse também que a cadeia é um hotel, um escritório e eles são uma empresa rica e próspera.
Seguidas vezes o repórter perguntava se não haveria solução. Ele disse que não, porque a sociedade e o governo não tem ideia da extensão do problema. Finalizou dizendo uma frase de Dante Alighieri retirada de sua obra “A Divina Comédia”: Percam todas as esperanças. Estamos no inferno.
Esta entrevista deixou e continua deixando muita gente preocupada. O que as pessoas que ficam preocupadas não sabem, é que esta entrevista é obra de ficção de Arnaldo Jabor em seu artigo “Estamos Todos no Inferno”. Quem não leu dever ler este artigo de Jabor, que retrata muito bem a criminalidade e falta de punição.
A cadeia no Brasil tem a pretensão de reeducar o prisioneiro, para que ele se reintegre à sociedade. Fica a dúvida: o sistema prisional do Brasil reeduca realmente os presos ou é um abrigo para formação de quadrilhas mais organizadas?
O governo ao invés de endurecer as penas, criou penas alternativas. Bem diferente do sistema carcerário do Japão, que tem como objetivo levar o condenado ao arrependimento. Como errou, não é mais uma pessoa honrada e precisa pagar por isso.
Em nada lembra as cadeias brasileiras, superlotas e violentas. Lá existe organização, limpeza e todos tem que trabalhar. Quando o preso chega à cadeia, ele recebe uma lista do que pode e do que não pode fazer. Durante a jornada de trabalho e nas refeições não é permitido falar. Em hipótese alguma é permitido fumar. Quando aparece um rebelde na cadeia ele é exemplarmente púnico. Vai para a solitária, que tem o mesmo conforto das outras celas. Visitas só uma vez por mês, sem contato físico. Nem pensar em visita íntima.
Cadeia é o assunto do momento aqui no Brasil. Um deputado do PT/MA está tentado aprovar no Congresso o Estatuto do Preso, onde o preso passará a ter mais regalias e os carcereiros mais deveres. Estranho este estatuto surgir bem no momento em que a quadrilha do Planalto foi condenada e o cerco está se fechando em torno do chefe Luiz Inácio. Deve ser coincidência.
Ninguém propõe a implantação do modelo carcerário japonês em nossas cadeias.