Já não existem mais
serenatas. Aos sábados cada um pegava o seu violão e saíamos para a noite de
seresta. Eu estudava música erudita, razão porque não gostava de emprestar meu
violão. Não por possessão, mas por cuidado, pois o instrumento era e continua
sendo de boa qualidade. Mesmo assim passava de mãos e mãos para meu desespero.
Naqueles anos dourados estudava-se
música no curso ginasial. Onze matérias compunham a grade do curso. Diz-se que
o mundo está evoluindo. De fato está, mas em alguns setores transparece que a
evolução não está presente. A grade curricular do curso que substituiu o
ginasial não é a mesma. Regrediu. Pelo menos a música foi suprimida.
Na época de faculdade
nos reuníamos para tocar violão e cantar. Zé Eduardo compôs uma canção com uma
letra interessante. O refrão era o seguinte: garoa na lagoa sapo canta a toa.
Lá na lagoa tem um sapo inteligente, quando canta encanta gente e começa a
magicar. Vou para o terreiro, acendo um cigarro de palha, apago minhas falhas,
fico ouvindo sapo cantar.
O ditado popular diz:
sapo de fora não chia, mas é bom ficar ouvindo o sapo cantar e tirar proveito. Fica
a saudade das serestas, do curso ginasial e dos sapos a coachar no lago que o
prefeito Renato Cordeiro construiu para celebrar o cinquentenário da centenária
Birigui.
No lugar do lago, que
além de ter sido um cartão postal da cidade, que também proporcionava aumento
da umidade relativa do ar, existe uma praça. Praça que causa mais transtornos
do que benefício. Melhor teria sido preservar o meio ambiente, deixando o lago
bem cuidado e com peixes.
Por falar em lago, no
bairro Jardim do Lago não tem mais lago. Nem lagoa. Por que os governantes não
preservam as lagoas, os córregos ou qualquer curso de água? Talvez para
facilitar os loteamentos em suas próprias terras. Leis existem, mas é tão fácil
driblá-las.
Algumas lagoas secaram.
Uma, porém, foi criada. Existe uma lagoa que recebe água todo instante. Não é
bem água. É esgoto. Finalmente a lagoa de tratamento de esgoto começou a
funcionar. Com tão pouco tempo de funcionamento a lagoa já está mostrando a que
veio. As águas do Ribeirão Baixote estão mais claras. Já é possível enxergar o
leito. Peixe ainda não tem, mas a natureza se encarregará deste feito. Em breve
será possível pescar. Certamente melhor do que nada.
Pobre não tem escolha.
Ou cobre o pé ou cobre a cabeça. Se puxar o cobertor para cobrir a cabeça, os
pés ficam descobertos. É desta forma que está funcionando a lagoa. Despoluiu as
águas do Baixote, mas todo o odor exalado pela lagoa está contaminando a
atmosfera.
Por que será que os
pensadores eleitos pelo povo para gerir a administração pública não consultam
profissionais que entendem de tratamento de esgoto antes de realizar uma obra
desta dimensão?
A predominância do
vento de superfície é de leste para oeste. A lagoa de tratamento foi construída
numa imensa área com alguns alqueires exatamente no ponto cardeal leste do
município de Birigui. O vento passa por lá e traz para a área urbana todo o
odor do esgoto.
Existem processos de tratamento
de esgoto anaeróbico, onde o esgoto a ser tratado não tem contacto com a
atmosfera. Este processo ocupa área com poucos metros quadrados e são
instalados em vários pontos da cidade. Limpam a água e não polui a atmosfera.
Outro fator muito importante é a utilização da atual rede de esgoto,
dispensando a construção de tubulação do emissário até a lagoa. Isto é
evolução.
De quem será o mérito
da construção da Estação de Tratamento de Esgoto? Certamente do prefeito que
concluiu a obra. Obra com duplo sentido. Pode ser a construção da lagoa. Pode
ser aquilo que os bebês fazem em nossos colos sem perguntar se pode.
Melhor ter uma lagoa
com garoa para ouvir o sapo coachar. O mundo está evoluindo, mas em alguns
setores transparece que a evolução não está presente.