quinta-feira, 7 de junho de 2012

Arrastão


Liberdade de expressão é bom. Tão bom que falar o que pensa pode ser uma arma. É com palavras que a imprensa eleva uma pessoa ao patamar de ídolo e com palavras a destrona.
Particularmente, não gosto da expressão “a voz do povo é a voz de Deus”. Talvez por admirar o “Século das Luzes” e ser um possível discípulo dos iluministas. Muitas reformas ocorreram na sociedade e nos Estados tendo como ponto de partida o Iluminismo. Os iluministas tinham posições contrárias às doutrinas da Igreja e ao Estado, mas nunca pretenderam extinguir estas duas organizações, pois há pessoas que precisam ser tutelados.

O povo, por ser tutelado, não pode ter a voz que tudo decide. Os iluministas aceitam a opinião popular, mas não aceitam ignorantes no poder. Como o iluminismo é fundamentado na razão, nada mais lógico do que estabelecer uma pirâmide onde no topo estarão as pessoas preparadas para governar.
O jornalista quando sai a campo houve a voz do povo. Este povo, que acorda todas as manhãs para trabalhar e conseguir o sustento da família, não está preocupado com o desfecho da CPIM do Cachoeira. Tem preocupação com o arrastão.

Arrastão? Não se trata daquela rede que puxa os peixes para a orla, mas dos bandos que assaltam residências, prédios e condomínios sem a menor preocupação de serem rechaçados pela segurança interna ou presos pela Polícia.
Mesmo não tendo informação e cultura adequada, o povo usa a razão segundo suas necessidades. É neste segmento que entra a terrível e talvez benéfica expressão “a voz do povo é a voz de Deus”. Nas ruas o povo tem saudade da ditadura. Nas entrevistas sobre o período militar, que foi a última ditadura, as pessoas não mencionam perseguições políticas. O povo ignora posições políticas. O povo quer tutela. Quer sair pela manhã para trabalhar e não ser assaltado. Voltar para casa e não encontrar sua casa furtada. O povo tem saudade do período que a Polícia era autoridade e os bandidos eram tratados com tal.

De certa forma estamos vivendo numa ditadura. A ditadura dos desmandos. No Brasil não se chega ao poder por capacidade intelectual ou conhecimento de administração da coisa pública, mas por fraudes eleitorais. Os publicitários vendem os candidatos e os eleitores compram. Neste processo os eleitores compram gatos por lebres.
O maior exemplo está no Palácio do Planalto. O ex-presidente, que foi blindado pela quadrilha do Mensalão, ainda não foi indiciado, mas seus dias estão contados. Tal qual atitudes tomadas por Joseph Stálin, que reescreveu a história do comunismo na União Soviética eliminando os crimes cometidos por ele e por seus asseclas, o apedeuta está tentando apagar da história do Brasil o pior período da suposta democracia que estamos vivendo. Para ele o Mensalão é invenção da imprensa.

Liberdade, Igualdade, Fraternidade expressão criada por Jean Jacques Rousseau, não estabeleceu o caos ou a anarquia e sim a organização do Estado. Deveres e obrigações para o povo e para os dirigentes.
Até quando o povo ficará sob o domínio destes agentes políticos que estão no poder e das quadrilhas que lhes dão sustentação, utilizando da corrupção e do tráfico de influência?

Este cartel não é um acontecimento único que floresceu no Planalto Central. São cartéis municipalizados. Prefeitos corruptos e vereadores que acobertam. Assim é a vida política no país dos impostos, onde não há segurança, hospitais e escolas precários.
Arrastão. Estão arrastando para o bueiro a dignidade do povo brasileiro, se é que este povo tem, pois quem elege os agentes políticos é este mesmo povo.