segunda-feira, 9 de abril de 2012

Exterminado


Ler é bom. Faz-nos viajar por um mundo que não existe fisicamente, mas muito real em nossa imaginação. Ver um filme é mais cômodo. O diretor imagina para nós e cria as cenas que ficam, às vezes, perpetuadas em nossas memórias. Será que alguém conseguiria imaginar uma cena melhor do que o diretor Cecil B DeMille criou para o filme “Os Dez Mandamentos”, em que Moisés abriu o Mar Vermelho para a passagem dos hebreus?
Quando alguém dá sua opinião e ela não é a mesma de quem está ouvindo, diz-se que a pessoa é do contra, de oposição, etc. Pois bem, há quem dúvida se a travessia do Mar Vermelho realmente aconteceu. Alguns estudiosos argumentam que a passagem se deu no Rio Nilo.

Outro relato bíblico que gera discussão é o fim de Sodoma e Gomorra. Está escrito que Abraão diante do Senhor pediu para que as duas cidades não fossem destruídas, argumentando que justos não podiam perecer por atos dos ímpios. Não teve jeito. De Somoda só foram salvos Lot e suas duas filhas. Os anjos encarregados pelo extermínio da população orientaram Lot e sua família a sair da cidade e não olhar para trás. A mulher dele olhou e veio o castigo: virou estátua de sal e no lugar das cidades está o Mar Morto. A discussão se refere ao fato de que os arqueólogos não encontraram vestígios da existência destas cidades. No mundo da ficção científica existe explicação e muito simples: a população foi exterminada e tudo desintegrado.
Exterminado é um vocábulo que todo justiceiro gostaria de poder pronunciar. Todo justiceiro que gosta de ficção. Aquele androide indestrutível que veio do futuro para exterminar algumas pessoas usava muito este termo no filme “O Exterminador do Futuro”. Quando ele encontrava uma pessoa ou outro androide indesejável ele dizia: você está exterminado. Em seguida realizava a tarefa.

No mundo da ficção e da fé é assim. Tudo pode acontecer. Na vida real é um pouco diferente. Nem mesmo a Polícia, cuja principal tarefa é proteger a população, não pode exterminar os bandidos que estão em todos os segmentos da sociedade. Teoricamente, nesta semana um senador se exterminou. Teoricamente, porque ele não vai desaparecer do cenário político.
Este senador que foi o herói da oposição, por ter sido defensor da moral e dos bons costumes e combatente da corrupção, está sendo acusado de ter ligação com um contraventor que comanda uma máfia de jogos ilegais. Durante aquele período em que o mensalão era manchete dos principais jornais, o senador parafraseou Carlos Drummond de Andrade no poema “Quadrilha”: o presidente amava Dirceu, que amava Delúbio, que amava Sereno, que amava Genoíno, que amava Silvinho, que amava Valério, que pagava mensalão e faturava bilhão.

Sua bandeira erguida à frente do combate a corrupção parecia um Moisés querendo transpor um mar. Não um mar vermelho, mas um mar de lamas. Infelizmente este senador é um residente de nova Sodoma erguida no Planalto Central. Todas as esperanças de que lá existiria político justo e honesto caiu no mais profundo poço das desilusões.
A primeira celebração de Pessach ocorreu quando Deus mandou as dez pragas sobre o povo egípcio. À meia-noite, um anjo da morte feriu todos primogênitos egípcios. Os hebreus, naquela noite, comeram carne de cordeiro, pão e ervas amarga. A páscoa judaica celebra a libertação do povo hebreu e do castigo sobre o Faraó.

Fica a dúvida. Os acontecimentos escritos na Bíblia aconteceram ou é apenas fonte de informação para que dirigentes públicos se instruam para construção de uma sociedade justa. No mundo da ficção e da fé é assim. Tudo pode acontecer. Na vida real é um pouco diferente.