Ler é bom. Faz-nos
viajar por um mundo que não existe fisicamente, mas muito real em nossa
imaginação. Ver um filme é mais cômodo. O diretor imagina para nós e cria as
cenas que ficam, às vezes, perpetuadas em nossas memórias. Será que alguém conseguiria
imaginar uma cena melhor do que o diretor Cecil B DeMille criou para o filme
“Os Dez Mandamentos”, em que Moisés abriu o Mar Vermelho para a passagem dos
hebreus?
Quando alguém dá sua
opinião e ela não é a mesma de quem está ouvindo, diz-se que a pessoa é do
contra, de oposição, etc. Pois bem, há quem dúvida se a travessia do Mar
Vermelho realmente aconteceu. Alguns estudiosos argumentam que a passagem se
deu no Rio Nilo.
Outro relato bíblico
que gera discussão é o fim de Sodoma e Gomorra. Está escrito que Abraão diante
do Senhor pediu para que as duas cidades não fossem destruídas, argumentando
que justos não podiam perecer por atos dos ímpios. Não teve jeito. De Somoda só
foram salvos Lot e suas duas filhas. Os anjos encarregados pelo extermínio da
população orientaram Lot e sua família a sair da cidade e não olhar para trás.
A mulher dele olhou e veio o castigo: virou estátua de sal e no lugar das
cidades está o Mar Morto. A discussão se refere ao fato de que os arqueólogos
não encontraram vestígios da existência destas cidades. No mundo da ficção
científica existe explicação e muito simples: a população foi exterminada e
tudo desintegrado.
Exterminado é um
vocábulo que todo justiceiro gostaria de poder pronunciar. Todo justiceiro que
gosta de ficção. Aquele androide indestrutível que veio do futuro para
exterminar algumas pessoas usava muito este termo no filme “O Exterminador do
Futuro”. Quando ele encontrava uma pessoa ou outro androide indesejável ele
dizia: você está exterminado. Em seguida realizava a tarefa.
No mundo da ficção e da
fé é assim. Tudo pode acontecer. Na vida real é um pouco diferente. Nem mesmo a
Polícia, cuja principal tarefa é proteger a população, não pode exterminar os
bandidos que estão em todos os segmentos da sociedade. Teoricamente, nesta
semana um senador se exterminou. Teoricamente, porque ele não vai desaparecer
do cenário político.
Este senador que foi o
herói da oposição, por ter sido defensor da moral e dos bons costumes e
combatente da corrupção, está sendo acusado de ter ligação com um contraventor
que comanda uma máfia de jogos ilegais. Durante aquele período em que o
mensalão era manchete dos principais jornais, o senador parafraseou Carlos
Drummond de Andrade no poema “Quadrilha”: o presidente amava Dirceu, que amava
Delúbio, que amava Sereno, que amava Genoíno, que amava Silvinho, que amava
Valério, que pagava mensalão e faturava bilhão.
Sua bandeira erguida à
frente do combate a corrupção parecia um Moisés querendo transpor um mar. Não
um mar vermelho, mas um mar de lamas. Infelizmente este senador é um residente
de nova Sodoma erguida no Planalto Central. Todas as esperanças de que lá
existiria político justo e honesto caiu no mais profundo poço das desilusões.
A primeira celebração
de Pessach ocorreu quando Deus mandou as dez pragas sobre o povo egípcio. À
meia-noite, um anjo da morte feriu todos primogênitos egípcios. Os hebreus,
naquela noite, comeram carne de cordeiro, pão e ervas amarga. A páscoa judaica
celebra a libertação do povo hebreu e do castigo sobre o Faraó.
Fica a dúvida. Os
acontecimentos escritos na Bíblia aconteceram ou é apenas fonte de informação
para que dirigentes públicos se instruam para construção de uma sociedade
justa. No mundo da ficção e da fé é assim. Tudo pode acontecer. Na vida real é
um pouco diferente.