quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Anhangabaú

Toda cidade tem o seu vale do Anhangabaú. Na cidade de São Paulo o Vale do Anhangabaú foi e nunca mais será tão bonito quanto o projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo. Jardins, escadaria, chafariz e à beira do vale o Teatro Municipal de São Paulo. Esta cena só se vê em fotos. Ou na memória de quem pôde vê-lo.

Antes de Ramos de Azevedo fazer sua criação era um pasto sujeito à alagação. Tal qual era o Vale do Biriguizinho, antes do Lago da Raquete de ser construído e destruído. Um local reservado, por quem arquitetou o universo, às águas excedentes de fortes chuvas e prolongadas. Tanto no Anhangabaú como no Biriguizinho alguém modificou o projeto inicial. Fatos e atitudes da evolução urbana. Nem sempre planejada.

O que seria da agricultura do Egito antigo, se o rio Nilo não inundasse suas margens. O que será da agricultura brasileira? É proibido plantar nos varjões. Plantar roça não pode, mas construir casas e fábricas pode. Tanto em Birigui como em São Paulo ninguém observa um decreto de 1946 que, salvo melhor juízo, não foi revogado, sobre terra de marinha.

A natureza é educada. Não é necessário pedir licença para que ela ceda um espaço a quem queira ocupá-lo. Da mesma forma que ela cedeu, ela não pede licença para voltar e ocupar o espaço, que outrora a ela pertencia. Quem determina a direção da água é o leito do rio. Se ele for modificado, um dia ele volta.

O ribeirão Anhangabaú era usado para tomar banho e lavar roupa. Anhangabaú é o nome dado a terras que pode ser alagadas. Não se sabe exatamente, talvez eu não saiba, porque os bandeirantes alteram o significado para rio de maus espíritos.

O Brasil é o país dos impostos. O Brasil também é o país da sonegação. Parte destes impostos sonegado, acredita-se que, vão para as cuecas de parentes de deputados governistas. Outra parte ninguém sabe. Nem a polícia.

Recolhem-se impostos, por que não há investimento na preservação do meio ambiente? Projetos e obras existem e estão em andamentos. Em breve a estação de tratamento do esgoto da cidade de Birigui vai debutar. Se é que o baile já não ocorreu. Mas o esgoto continua sendo despejado in natura. Como será a resposta da natureza?

As águas do ribeirão Anhangabaú eram cristalinas. Hoje, no subsolo, canalizada e invisível é água cristalina ou é esgoto?

O Anhangabaú era um rio de águas cristalinas, mas quando ele transbordava a população tinha pavor de suas águas. Todo município tem o seu ribeirão Anhangabaú. Nem sempre a água que corre é limpa. Fisicamente pode ser. O que mancha são as obras para acabar com as enchentes. Dinheiro dos impostos são gastos em obras que aparentemente não foram planejadas. Transparece serem obras paliativas.

Pode se dar o nome de Anhangabaú às administrações públicas. Quando administrada com parcimônia e planejamento corre pelo leito como se fossem águas limpas, cristalinas e transparentes. Entretanto se obras sem necessidades para o uso público forem realizadas, obras paliativas e para deixar as águas turvas, superfaturar os preços, o Anhangabaú sai do seu leito e causa o terror que as enchentes fazem com povo que habita em sua bacia.

Se ocorrer um acidente ambiental em uma empresa, os órgãos de proteção aplicam todo o rigor da lei. Com tanto recursos angariado com o recolhimento dos impostos muito poderia ser feito em prol da população. Basta não jogar no esgoto estes recursos tão caros para os bolsos dos contribuintes.

O Anhangabaú de todas as cidades continuará correndo livre pelo seu leito com a certeza da impunidade. Existe a Justiça, o Ministério Público, a Polícia, a CETESB e o IBAMA. Alguns destes órgãos cuidam do meio ambiente. Outros da malversação do dinheiro público. Todos cuidam do bem estar da sociedade.

Quem determina a direção da água é o leito do rio. O Anhangabaú, entretanto, é o soberano senhor de tudo e de todos.