segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Prioridade

Por falta de prioridade perde-se tempo, dinheiro e a paciência. Não estabelecer prioridades na área de saúde é um ato que deveria ser punido. É lamentável, mas raramente ouve-se falar que a Justiça puniu administradores de hospitais ou das secretarias de saúde.

Greve é o movimento reivindicatório de empregados contra empregadores. Quando a reivindicação é feita pelos patrões, o movimento chama-se locaute. Greve é permitida. Locaute não. São muitos os motivos para que a legislação proíba a paralisação das empresas.

Serviços essenciais não podem parar. Entretanto, os empregados encontraram uma alternativa para driblar a lei: operação padrão. Aplicar a operação padrão é na prática um ato igual ou pior do que a greve. O processo consiste em seguir rigorosamente todas as normas da atividade exercida pelo funcionário. Greve branca é uma paralisação das atividades sem represálias.

Pode ser chamada de operação padrão ou locaute. Há alguns meses a Santa Casa de Misericórdia de Birigui deixou de atender pacientes. Ninguém foi punido.

Uma prioridade que toda Santa Casa deveria estabelecer é a criação de unidade de tratamento intensivo. Alguns secretários de saúde, que não entendem do ramo, costumam dizer que UTI dá prejuízo. Outros pensam exatamente o contrário. UTI é um tratamento de alto custo. Está amparo pela legislação. Ao invés de aumentar as despesas pode se tornar fonte de recursos para as Santas Casas. Infelizmente de misericórdia tem pouco. Algumas só no nome.

Prioridade é isto. Estabelecer a condição do que está em primeiro lugar em importância ou necessidade.

Fazer obras é prioridade de governantes. Sobretudo se for faraônica. O trem-bala é uma destas obras. Estima-se que o governo federal gastará recursos na ordem de cinqüenta bilhões de reais.

Total falta de prioridade pensar em trem-bala. Nossa malha ferroviária está sucateada. A velocidade dos trens, em nossa região, é de no máximo quarenta quilômetros por hora. Com os recursos do trem-bala daria para estabelecer prioridades. Não só nas ferrovias como nas rodovias. Quem sai do Estado de São Paulo ou utiliza as estradas federais também vão perceber o quanto elas estão abandonadas e esburacadas.

Com cinqüenta bilhões de reais para uma obra desnecessária, seria possível construir uma UTI para a Santa Casa de Misericórdia de Birigui, outra UTI para a maternidade e também um pronto socorro anexo. A Santa Casa de Birigui não tem como prioridade manter um pronto socorro. Terminada as obras sobraria muito dinheiro do trem-bala para outras obras prioritárias.

Copa do Mundo é uma atividade da FIFA. Na época da escolha da Copa do Mundo para ser sediado no Brasil, todos os governantes, presidente e governadores, disseram que não seriam utilizados recursos públicos para as obras de reforma de estádios e outras obras. Passou a ser prioridade por causa da Copa do Mundo construir estradas, trem-bala, estádios e reformar os aeroportos.

Se prioridade é a condição do que está em primeiro lugar em importância, urgência e necessidade, por que não dar prioridade às obras e serviços para a sociedade? Sobretudo para a população que não pode pagar tratamento médico-hospitalar no Albert Einstein ou Sírio-libanês?

Como só se faz a omelete com os ovos que temos, e o SUS e a omelete que o povo tem, é preciso que a sociedade civil organizada comece a se manifestar para que se priorizem recursos para o atendimento digno nas Santas Casas e hospitais.

Trem-bala e Copa do Mundo não é prioridade.