sábado, 8 de maio de 2010

Sem

Existe tanta gente sem ter o que fazer. Algumas não fazem nada mesmo. Tem gente sem terra. Como tem terra sem gente. Um sitiante precisando de mão de obra foi a um acampamento dos ditos sem terra. Precisava de pelo menos cinco camponeses; pessoas do campo. Bóia-fria não. Haveria bóia quente e farta. Além da diária. Daquele batalhão de militantes de trabalhadores rurais sem terra, conseguiu dois. Ambos demonstravam que estavam sem conhecimento do manejo do trabalho rural. Pareciam espiões. Queriam conhecer a rotina do sítio. Terminada a jornada foram dispensados.

Existe um monte de gente sem ter o que fazer e que fazem um monte de coisas. Sem utilizar das ridículas reservas de mercado às pessoas com sessenta anos ou mais. Estudam outros idiomas. Organizam entre si passeios e excursões. Este monte de gente sabe o que quer e também sabe o que fazer. Não fazem conta de títulos ou de honrarias.

Sem educação é uma característica de parte da sociedade. As pessoas ligadas ao ensino, afirmam que houve evolução nos métodos de educação das crianças e dos adolescentes.

Até meados dos anos sessenta as crianças eram alfabetizadas no curso primário. Em seguida iam para o ginásio, onde os alunos estudavam português, latim, francês, inglês, matemática, ciências físicas e biológicas, trabalhos manuais, música, história, geografia e educação física. A evolução suprimiu algumas destas matérias da grade do curso.

Num grupo destas pessoas sem ter o que não fazer, mas fazem tudo, discutia-se como é o ensino na Alemanha. Lá não mudou nada. Os alunos estudam tudo. E gratuito. Aqui os alunos são aprovados independentemente de terem adquirido conhecimento. Para o Estado adquirir conhecimento é um detalhe. O que importa é dar um certificado de conclusão de curso. Quanto mais certificado ou diploma for emitido, menor será o índice de analfabetos e maiores o índice de profissionais academicamente formados. O que não é comentado é a baixa cultura adquirida em todos os níveis do ensino formal.

Antônio Carvalho era apresentador de um programa chamado “Bandeirantes Freqüência Balançada”. Naquela época o nível da programação das rádios era muito bom. Ele e outros jornalistas foram convidados pelo governo alemão a visitar a Alemanha. Ele tinha o péssimo hábito de fumar. De ônibus a caminho do hotel ele abriu a janela e jogou para fora um resto de cigarro. O motorista parou o ônibus. Foi até ele e disse que era proibido jogar qualquer coisa para fora do ônibus.

Antônio Carvalho não era um brasileiro qualquer. Era estudioso e tinha um bom nível intelectual e espiritual. Envergonhado e intrigado foi conversar com o motorista. Disse que no Brasil também é proibido jogar objetos para fora dos veículos, mas é raro alguém respeitar esta proibição. Em seguida perguntou: o que acontece se um motorista estacionar em local proibido? Ele respondeu: não sei. Ninguém estaciona o carro em local proibido.

No Brasil não há dinheiro para ensino gratuito, hospitais estão à beira da falência e sem assistência médica. A riqueza da Alemanha é cem vezes cem maior se comparada com a do Brasil. Tanto em bens como em cultura.

Em níveis municipais há cidades que podem ser comparadas à Alemanha. Outras com o Haiti. É a burrice ou a quadrilha administrando a coisa pública.

Se um município sem recurso receber cem milhões de reais, em época eleitoral, o que será que o prefeito faria? Provavelmente pintaria a Santa Casa pelo lado de fora para ludibriar o povo e desviar os recursos para obras superfaturadas e reforçar o caixa. Deles.