Quando não temos o que fazer uma boa opção é ler. Ler jornal não é uma falta de opção. É um dever. Jornal nos trás notícias e opiniões de pessoas sobre assuntos diversos.
Pensar também é um bom passatempo. Dias desses estava pensando em Roskolnikov. Este russo é a personagem principal do romance “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoiévski. Roskolnikov cometeu um crime. Outra pessoa foi presa em seu lugar. Depois de algum tempo ele foi preso, mas o seu castigo durante anos foi conviver consigo mesmo. Sua consciência sabia quem era o criminoso. O remorso corrói.
Houve época que os professores eram educadores. Alguns ainda continuam sendo, mas fica a dúvida se todos se preocupam em educar o aluno. A maioria cumpre sua função profissional. Ensinar o conteúdo curricular. Os professores eram o segundo pai ou a segunda mãe.
Obediência, lealdade, honradez, sacrifício, asseio, saber renunciar eram itens para forjar a criança a praticar espontaneamente o bem e não com medo do castigo. O castigo sempre esteve presente na vida de cada um. Hoje é proibido aplicar castigo.
O castigo não era ficar ajoelhado sobre caroços de milho. Nem ficar num quarto escuro com uma caveira da aula de biologia. Um dos castigos era ficar depois da aula decorando um soneto. Ou fazer a tarefa não feita em casa.
Em 1970 o Brasil foi campeão da Copa do Mundo. O prefeito de São Paulo gratificou todos os jogadores da seleção com um fusca para cada um, com dinheiro público. Depois de décadas o prefeito foi penalizado pela Justiça a devolver o valor desviado do erário público. Será que esta pena foi um castigo? Pela conduta que ex-prefeito continuou tendo em sua vida política ele nunca ouvir falar sobre Roskolnikov.
Quanto pode custar 23 fuscas? Perto do que a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo desviou de seus cofres para financiar a campanha presidencial em 2002 não passa de gorjeta. Para os diretores da Bancoop os meios justificaram os fins. O candidato do Partido dos Trabalhadores foi eleito e re-eleito.
É assim que funciona a Justiça no Brasil. O presidente está terminando o segundo mandato e o Ministério Público ainda não conseguiu abrir processo contra os autores das irregularidades cometidas em 2002.
Por incrível que possa parecer o crime maior não foi vencer irregularmente a eleição para presidente da república. O crime maior foi deixar milhares de famílias sem os apartamentos que a Bancoop deveria entregar aos seus associados. Os associados pagaram religiosamente o valor dos apartamentos, mas não receberam.
Político não tem remorso. Mesmo que seus atos causem danos a pessoas. Dois crimes foram cometidos. Nenhum foi punido. Um eleitoral outro contra a economia pública. Os autores estão livres. A Polícia não conseguiu provas para prendê-los.
Como político não tem remorso, o presidente da Bancoop foi indicado para ser o tesoureiro da campanha eleitoral para sucessão do Sr Luiz Inácio.
O crime deveria andar de mãos dadas com o castigo. Certamente o prefeito estudou em bons colégios de São Paulo e formou-se em engenharia na Escola Politécnica da USP. O Presidente da República não estudou. Ambos, porém, têm algo em comum...
Castigo é viver. Para viver honestamente é preciso trabalhar. Para trabalhar é preciso ser honesto e provar que é. Algumas empresas exigem folha corrida. Aquela que a Polícia fornece. Para ser candidato a cargos eletivos não precisa. Basta se filiar a um partido político. Para vencer uma eleição tem que formar quadrilha. Tomar dinheiro de alguém para comprar votos.