segunda-feira, 29 de março de 2010

Cadeira

Os poetas são insensíveis. Nunca em tempo algum alguém escreveu um poema a uma cadeira. Pode alguém viver sem uma cadeira? Esta mobília é um assento apoiado em pés. Tem espaldar e às vezes dois braços para apoiar os antebraços. A cadeira nos dá conforto para descansar.

A palavra vem do grego. Kathedra significa serve para sentar. Banco serve para sentar, mas não é cadeira. Não nos dá conforto algum.

Por falar em banco, nenhum estádio de futebol do Brasil pode receber público para assistir jogos da Copa do Mundo. A razão é óbvia. Os estádios têm bancos e não cadeiras para todos. A FIFA não permite que torcedores sentem-se em bancos. Banco é para os réus. O governo do Brasil vai reformar os estádios com dinheiro público para evento da iniciativa privada. E ninguém vai para o bando dos réus por mau uso do dinheiro público. Os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro foi um exemplo.

A Olimpíada de Montreal aconteceu em 1976. Nesta semana uma emissora de rádio de São Paulo comentou que o Canadá é um país rico, mas ainda está pagando as dívidas contraídas por ter sediado os jogos daquele ano. O presidente do Brasil que ocupa a principal cadeira do país lutou e conseguiu trazer para um paupérrimo país, que é o nosso, a Copa do Mundo e a Olimpíada. Onde vamos arranjar tanta cadeira para os espectadores sentar?

Além destas cadeiras para estádios, existem muitos tipos de cadeiras. À beira da piscina ou na varanda o Macunaíma não recusaria uma espreguiçadeira. Cadeira com rodízio no escritório facilita o trabalho do escriturário.

Todas as pessoas têm pelo menos uma cadeira. Seja ela que tipo for. Confortável ou não. Mas existe uma que ninguém quer ter. A cadeira de rodas.

Usar cadeira de rodas durante uma recuperação de uma enfermidade ou cirurgia é uma coisa. Outra coisa é saber que a cadeira é a extensão de nossos membros inferiores. As pernas não andam mais e nem sobem degraus. Temos que conviver com esta diversidade.

A novela Viver a Vida está sendo escrita por Manoel Carlos. Nesta novela o autor está trazendo fatos para que a sociedade perceba que todas as pessoas devam ter os mesmos direitos. Num capítulo destes a personagem, que usa uma cadeira de rodas, quis passear utilizando os meios públicos de transporte. As cenas foram as do cotidiano. Calçadas obstruídas. Faltam rampas nas sarjetas. Não existem sanitários públicos para usuário de cadeira de rodas.

O que chamou mais a atenção não foram as cenas conhecidas do cotidiano. A cena foi uma: a dificuldade para embarcar numa cadeira de rodas em ônibus urbanos. O político senta na cadeira do poder e se esquece que foi escolhido para resolver nossos problemas. Será que nenhum político vai reconstruir o que já existiu. Para quê elevadores? Uma plataforma de embarque resolve.

Na cidade de Birigui existem rampas nas esquinas do centro da cidade. Só no centro. Nos bairros é o mesmo problema mostrado no capítulo da novela. O cadeirante trafega na rua por duas razões: não há rampas e os buracos das ruas são obstáculos menores que os das calçadas. Não existe norma para pavimentar a calçada.

A implantação das rampas foi uma campanha organizada por um vereador. Na época ele pediu ajuda à sociedade civil organizada. O que causa estranheza é que antes de ser vereador, o cidadão era secretário de obras da prefeitura. Por que ele não fez esta obra quando estava sentado na cadeira do poder?

Em épocas passadas os monarcas sentavam-se em cadeiras especialmente feitas para eles. O Trono foi substituído pela Cadeira do Poder.