terça-feira, 29 de setembro de 2009

Momentos

Ninguém vive o passado. Muito menos o futuro. Vive-se o momento. Que é presente. Vivemos inúmeros momentos. Um seguido do outro. Cada um ao seu tempo e nenhum se repete. Parece até um princípio físico. Um não ocupa o lugar do outro.

O futuro não existe. O passado sim e trás ensinamentos. É difícil encontrar alguém que leu “O Capital” escrito por Karl Marx na década de sessenta do século dezenove. Num dos seus capítulos ele escreveu sobre a crise econômica. Crises econômicas são acontecimentos periódicos no regime capitalista. A razão é porque a economia vive em função do mercado.

Tenho uma amiga alemã que me passou esta pequena história. Existem outras versões circulando pela net.

“Um paulista muito rico decidiu viajar e foi para o Rio Grande do Sul. Já estava anoitecendo, então parou numa cidade litorânea. Para quem conhece o Rio Grande sabe os efeitos do minuano. Vento forte e frio que congela até a alma do pobre espírito. A cidade estava deserta.

Com a crise que assola o nosso país, a maioria das pessoas esta endividada e vivendo à custa dos créditos que o governo federal concedeu. O governo concedeu créditos consignados aos aposentados, pensionistas e funcionários públicos. Os comerciantes ao povo para vender suas mercadorias.

Naquela cidade à beira do litoral gaúcho ninguém nas ruas. Ele, o paulista, pára em frente a um hotel. Entra e pede para conhecer as instalações dos apartamentos.

Para não deixar dúvidas sobre sua idoneidade deixa em custódia cem reais. O recepcionista recebe os cem reais. Repassa-o ao gerente e sobe as escadarias para mostrar as dependências do hotel.

De posse dos cem reais o gerente e sai correndo. Vai até ao açougue e paga a dívida que o hotel tinha com o açougueiro.

O açougueiro, por sua vez, vai até ao pecuarista a quem deve e paga toda a dívida do hotel.
O fazendeiro ao receber a nota de cem reais, pega sua caminhote e vai até a casa do veterinário e liquida sua dívida.

O veterinário que não tem os dons de Dom Juan, freqüentava uma casa noturna. Com a crise que assola o país tinha dívida com a cafetina. Com os cem reais pagou sua dívida. Mesmo em tempos de crise os prostíbulos funcionam. E oferecem crédito.

A cafetina ao receber o abençoado cem reais, pediu a mais fogosa prostituta que fosse correndo ao hotel pagar aquelas diárias que ela ficara devendo, pois quando o cliente era ilustre ela os atendia no hotel para maior conforto.

Foi neste exato momento que o paulista voltou ao balcão da recepção. Agradeceu a gentileza e a educação gaúcha, mas disse que o hotel não tinha o padrão que está acostumado a se hospedar. Pediu a devolução dos cem reais e foi embora”.

A matemática é uma ciência exata, mas a matemática financeira não é. Ninguém ganhou nenhum centavo, mas todas as dívidas foram quitadas.

Naquela noite não houve crise na cidade do Rio Grande, porque quando o dinheiro circula não há crise.

Pois é. Não havia dinheiro e todas as dívidas foram quitadas. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Quantas pessoas se endividaram com o crédito consignado, nesta pequena história representada pelos cem reais? O crédito foi oferecido para quitar alguma dívida, comprar algum bem durável ou pagar a farmácia. Para o mutuário não foi tão bom. Seu poder de compra diminuiu. Quando o poder de compras diminui cai as vendas no comércio. Se o comércio não vende a indústria pára.

A riqueza da nação é produzida pelos empresários e pelos funcionários das empresas. Seriam momentos inesquecíveis se crise não houvesse. Entretanto, quem dita as normas não somos nós. São os políticos.