sábado, 23 de maio de 2009

Muralhas

Muralhas sempre foram construídas. Se pequenas, chamam-se muros, tem a função de separar duas áreas. Dois quintais. Às vezes porque um vizinho é chato e o outro também. Outras vezes um vizinho é bom e o outro também, mas um tem um gato de estimação e o outro um cachorro. Um muro ou uma muralha sempre separa um conflito.

Na Idade das Trevas as muralhas serviam para cercar as cidades. Atualmente servem para separar a sociedade dos bandidos. Quando os bandidos estão presos, são as muralhas da penitenciária. Se os bandidos estão soltos, são as muralhas de nossas casas.

O Templo de Salomão também tinha muralhas. Nabudonosor destruiu o Templo. Depois foi construído o Segundo Templo. O Império Romano o destruiu. Só sobrou o Muro Ocidental. O Muro das Lamentações dos judeus. Embora tenha a denominação de muro é uma verdadeira muralha. Neste muro lamentam-se tudo. Até o fato de não ser mais possível construir o terceiro Templo. O motivo é que do outro lado estão as mesquitas. Uma muralha separa o mundo islâmico do mundo judeu.

Pensava-se que construir muralhas fosse pensamentos de épocas remotas. Não é. Pensava-se também que o Muro de Berlim fosse o último. Não foi. Israel construiu um muro em Jerusalém. Árabes e judeus ficaram apartados pelo muro.

A cidade do Rio de Janeiro também está construindo uma muralha. Vai separar as favelas de área de preservação permanente. O propósito é impedir que as favelas invadam o que resta da Mata Atlântica nos morros da cidade. É possível que isto não dê certo. Entretanto, muro, muralha, obstáculo são as barreiras que se constrói para impedir o avanço de um inimigo. No Rio de Janeiro o inimigo da mata é a sociedade urbana.

O futuro pode esta no passado. A maioria das pessoas não lê história. Mas Hollywood supre esta falta. Grandes produções retratam épocas. Helena. Quem não se apaixona por este nome. Não existe Helena que não seja sedutora e cativante. Pode ser que ela não se chame Helena. Ela precisa ser doce com é Mel. Helena de Tróia vivia atrás de uma muralha. Protegida não só pela muralha, mas por uma família e mais que uma família qualquer. Uma família que tinha o poder. O final da história todos sabe.

Ontem uma garotinha morreu. Seus pais doaram seus órgãos para transplante. A família dela era uma família qualquer. A semelhança com a família de Helena de Tróia é que também morava atrás de uma muralha. Não tão alta, mas provida de tecnologia de segurança contra invasores. Mas o invasor invadiu e lhe causou a morte.

A cidade do Rio de Janeiro quer construir muralhas para que o povo medíocre e sem cultura invada área de preservação ambiental. Matar a mata e como matar esta garotinha. Mataram o futuro. A dúvida é: será que este povo de favela vai respeitar o obstáculo de uma muralha? E não destruir o futuro com a extinção da Mata Atlântica?

Nos anos sessenta o governo do Estado da Guanabara tentou acabar com as favelas oferecendo moraria para aquele povo que se pensava ser sofrido. Não era, pois permaneceram nas favelas. Para quem vê fotos ou cenas retratadas em filmes nacionais, que pouco acrescenta na cultura de espectador, só vê um caos arquitetônico. Por que, então, os favelados continuam lá?

Pode ser que uma muralha invisível protege o povo dos morros cariocas. De um lado o crime organizado. Do outro as milícias. E o governo tudo assiste. Está colhendo o fruto plantado. Não coibiu o uso de droga. E pensou que jogo do bicho continuava sendo um atrativo para aumentar a visita ao zoológico. Urbanizou a favela e ela invadiu áreas de proteção ambiental. Destruir o meio ambiente e destruir a si próprio.

Construir muralha pode ser uma solução para proteger as famílias. Como Tróia. Os cariocas estão construindo uma muralha para proteger a Mata Atlântica. Aproveitando esta proposta protecionista, bom seria se as cidades construíssem muralhas para proteger nas reservas ambientais e as famílias. A muralha da consciência foi derrubada. Não há mais matas em nossa região. Crime ambiental dá cadeia.

Os outros crimes tornaram rotina. Roubam-se e compram-se produtos sem procedência, mesmo que sejam contrabandeados ou pirateados. Não há muralhas para conter o crime.