sábado, 7 de março de 2009

Palco

Palco é aquele espaço reservado para que os atores representem algum episódio da vida. No teatro é assim. O autor cria personagens e os atores dão vida a cada um deles. Deve existir algum feitiço no palco. Alguns atores e atrizes são tão apaixonados ao trabalho que fazem no palco dos teatros, que eles têm o desejo de morrer em cena.

Numa destas novelas das seis horas, a personagem que o ator Lima Duarte representava era um típico prefeito dos palcos. Prefeito típico de palco é o prefeito que manda, dá ordens absurdas, desvia verbas, persegue funcionários não leais às suas vontades pessoais ou políticas.

Quem não assistiu à novela das seis horas, pode encontrar na literatura de Dias Gomes o prefeito Odorico Paraguaçu. Perfeito prefeito de palco. Tinha como meta inaugurar um cemitério na cidade de Sucupira. No palco da vida existem prefeitos que também seguem Odorico Paraguaçu. Querem inaugurar cemitérios. Só o cemitério. No desfecho da trama Odorico é o primeiro a ser enterrado na necrópole de Sucupira.

A novela “O Bem Amado” deveria ser reapresentada. Reapresentada e não regravada porque não se encontra atores do nível de Paulo Gracindo que conseguiu incorporar o típico político brasileiro: corrupto e inconseqüente. O político não típico é aquele que é honesto, cumpridor de suas obrigações e de conduta ilibada. Saibam que existe.

O germe da corrupção está nos municípios. Em 2006 a Polícia Federal desencadeou a Operação Sanguessuga. Relembrando o foco da operação: ambulâncias eram compradas pelas prefeituras com valores superfaturados. Foram desviados, com a conivência dos prefeitos mais de cem milhões de reais. Verbas que o Ministério da Saúde destinou para compra de ambulâncias. Tem algum prefeito preso?

Há três ou quatro semanas atrás o Senador Jarbas Vasconcelos concedeu uma entrevista à Revista Veja. Nesta entrevista ele disse que boa parte do Partido do Movimento Democrático Brasileiro quer mesmo é corrupção. Numa parte da entrevista ele disse que esta boa parte do PMDB se especializou em manipular licitações, contratações dirigidas, corrupção generalizada. Esta foi uma dica que o Senador deu: qual partido administra sua cidade?

Nesta entrevista ele citou nomes. Dos nomes citados a Polícia Federal já sabia e até abriu investigação e foi publicado na imprensa. Até hoje não deu em nada. Não por omissão da Polícia. Os políticos têm foro privilegiado. Até mesmo os políticos que não têm foro privilegiado, têm o privilégio de não serem condenados. De que forma? Morosidade da Justiça. Morosidade?

O que causou estranheza foi o silêncio. Não ouvi dizer que alguma providência está sendo tomada para apurar se as denúncias do Senador são verdadeiras. Entre estas denúncias o enriquecimento de altas figuras que ocupam o palco da política nacional.

Pegar tubarão é difícil. Lambari não. Da mesma forma que a Polícia consegue prender as pessoas que fazem o transporte das drogas, deixando impunes os traficantes, seria o ponto de partida prender os funcionários que sabem do ato de corrupção e não denunciam. Funcionários públicos respondem civil e criminalmente pelos seus atos.

No palco do funcionalismo público municipal a trama política é um drama. Até mesmo prefeitos que se auto-intitulam como não político conseguem armar uma rede de proteção contra possíveis agressões aos seus atos administrativos. Os funcionários que têm obrigações e deveres ficam reféns dos políticos que estão na administração. Ou são recolhidos em guetos administrativos onde permanecem isolados da administração. E não adianta a Polícia Federal acusar os sanguessugas. Nada acontece porque há blindagem. Os vereadores protegem o prefeito, porque há escola: os deputados protegem o presidente. Então vira regra: podem desviar recursos públicos, porque não há punição. Os postos de saúde pública são precários, não há vagas nas creches e não adianta reclamar. Não existe órgão de proteção ao povo. Só aos prefeitos e presidente.

No palco da vida o enredo é acordar às seis da manhã, trabalhar, voltar para casa, dormir e acordar às seis da manhã. Ou cantar um tango argentino, como diria Manuel Bandeira.