sábado, 6 de dezembro de 2008

Execração

Algumas pessoas acreditam que é uma qualidade. Outras pensam o contrário. O povo brasileiro ri por qualquer palhaçada. Ri de si próprio. Prato cheio para autores anônimos que criam anedotas de todo tipo. Anedotas de governantes é um tema presente em quase todas as rodas de bate papo. Jesus não escapou.

Todo cristão deve conhecer a parábola da Madalena. Não é que fizeram uma anedota sobre esta parábola. Estava Jesus naquela praça, lá na terra dele, com a Madalena no meio da multidão. O povo querendo julgar, condenar e executar a pena. O povo como sempre, desde a mais remota época, segue um líder. Neste caso não era Jesus. A pena era apedrejar a Madalena. Símbolo do pecado. Jesus teceu seus argumentos e disse: atire a primeira pedra quem nunca errou. Neste instante a Madalena levou uma pedrada na testa do tamanho de meio tijolo. Jesus indignado perguntou ao atirador: você nunca errou? A resposta foi curta e grossa: desta distância não.

Dá para tirar ensinamento da parábola e da anedota. Execrar significa detestar, amaldiçoar, desejar mal a alguém ou a si próprio. Religiosamente significa deixar de ser puro. Madalena pecou ou criaram uma pecadora?

Naquele tempo não havia imprensa. Tirando ensinamento da anedota, o atirador parece com alguns jornalistas sensacionalistas. Atiram pedras sem o menor pudor. A imprensa é isto mesmo. A verdade tem que ser exposta. Doa a quem doer. Inclusive nela própria. O que não deveria acontecer, é o jornalista escrever uma matéria como se fosse uma crônica. Existe jornalista que acusa, julga, condena e executa a pena, sem que o acusado tenha sido indiciado. Sorte da Madalena. Naquela época não havia televisão. Na imprensa escrita é preciso ler e imaginar o que o autor escreveu. Na televisão não precisa imaginar.

A mídia condenou Thales Ferri Schoedl. Se fosse uma Madalena qualquer, a notícia não saia nem em jornalecos popularescos, mas tratava-se de um Promotor de Justiça. O Promotor não foi absolvido porque seus advogados fizeram uma boa defesa. Ele foi absolvido pelo testemunho das pessoas que presenciaram o fato. Contra um fato não há argumento. Criar argumento para vender jornal não é politicamente correto.

Não li em nenhum jornal e nem vi em nenhuma emissora de TV o testemunho das pessoas que presenciaram o fato. O Promotor se identificou e esta identificação serviu de chacota. O bando de jovens perguntou se ele era promotor de baladas. O Promotor virou as costas e saiu acompanhado de sua namorada. O Bando seguiu o casal dizendo insultos. O Promotor, embora armado, fugiu do grupo, que gritava: mata, mata. Correu cerca de cem metros, quando foi alcançado. Nenhum jornal publicou o fato como o fato ocorreu.

Existe uma diferença significativa entre escrever um artigo e escrever uma matéria. O artigo pode ter tendências. O autor de um artigo, de uma crônica pode dar sua opinião sobre um fato. O artigo não é notícia. É o ponto de vista do autor. A notícia é diferente. É um fato acontecido que deve ser levado ao conhecimento da sociedade. Sem tendências.

Como a sociedade é, de certa forma, influenciada pela mídia, sobretudo a televisiva, aceitou a acusação, o julgamento, a condenação que a mídia deu ao caso. Felizmente a Justiça não vê televisão e não sofre influência da imprensa escrita. O veredicto foi outro, mas a mídia novamente tentou jogar uma cortina de fumaça. Alguns jornalistas puseram as palavras na boca do povo: foi um julgamento corporativista.

Quando vamos ter uma imprensa livre e imparcial?