sábado, 19 de julho de 2008

Xadrez

Xadrez é um jogo elitizado. Talvez porque para jogar xadrez é preciso ter um pouco de cultura. É preciso ter bom raciocínio. Um movimento errado pode deixar o Rei em xeque. Se o adversário for bom, vai deixar o Rei em xeque-mate.

Uma pequena explicação para quem não sabe jogar xadrez: Quando o Rei está em xeque, é que ele está prestes a morrer, mas há como se salvar. Quando o Rei está em xeque-mate, não há salvação. Ele vai morrer.

No xadrez é assim. O vencedor vive. O perdedor morre. Ninguém fica preso.
Em provas automobilista o vencedor é saudado com uma bandeira quadriculada. Talvez porque o tabuleiro é quadriculado.

Por outro lado, existe o oposto. O xadrez é o local reservado à pior espécie de ser, supostamente humano, que vive entre nós. Popularmente xadrez significa prisão.

Não existe nada mais agradável do que tomar uma média com pão e manteiga. Nem sempre é possível tomar café com leite em xícara. Às vezes é preciso tomá-los em copos americanos. Nada compatível para quem joga xadrez. Mas tomar café com leite e pão com manteiga é costume de uma confraria. Todas as manhãs esta confraria se encontra no centro da cidade para o consagrado café da manhã. E nesta confraria ouve-se todo tipo de assuntos. Entre estes assuntos: poderá existir uma seleção de futebol melhor do que a que disputou a Copa de Setenta? O consenso foi de que naquela seleção não tinha lugar para Ronaldinhos e nem Robinhos.

Outro tema criou muita discussão. Para onde devem ir os criminosos? A opinião se dividiu. Os legalistas acreditam que os criminosos devam ir para os presídios e receber toda a assistência do Estado. Receber cinco refeições por dia e auxílio à sua família. Direito à visita íntima. Indulto de natal, da pascoal, das mães, etc, porque é um direito do bandido preso.
Um confrade moderado opta pela pena de morte para crimes hediondos. O que é crime hediondo? Respondeu: um crime horrível.

Neste instante surgiu uma terceira opinião: xadrez é para um cidadão honesto que cometeu um crime. Bandido deve ser extirpado da sociedade e não somente os bandidos que cometeram crimes hediondos. Como dimensionar se um crime é hediondo? Não vai ser a opinião de alguém? Xadrez é para cidadão honesto que cometeu crime. Não para bandido. A única fonte de renda de um trabalhador é o salário. Não há nada mais hediondo do que ser assaltado e ficar sem o salário. Contas a pagar e o salário na mão do assaltante.

A sociedade é uma peça do tabuleiro das pessoas que detém o poder em suas mãos. Em nossa região existem mais de dez mil presidiários. As origens de bandidos aprisionados são, em sua maioria, de outras regiões do Estado de São Paulo. Junto à população encarcerada vem outra população flutuante. Os familiares e os bandidos não presos. A sociedade não foi consultada se aceitava recepcionar bandidos de outras regiões.

Classificar uma pessoa do povo como bandido é fácil. Será que podemos classificar pessoas da alta sociedade e grandes empresários que cometeram crimes contra a economia de bandidos? Pode, mas tem retaliação. O delegado da Polícia Federal que prendeu o ex-banqueiro foi afastado das investigações porque vai fazer um curso para aprimorar seus conhecimentos. Não se trata de retaliações, segundo o Planalto.

Depois que Guttemberg inventou a imprensa ficou mais fácil divulgar os conhecimentos. Para adquiri-los é preciso ler. Em alguns casos estudar.

Administrar a coisa pública é algo semelhante ao jogo do xadrez. Para mexer as peças da administração é preciso ter adquirido sabedoria, caso contrário a derrota é iminente.

Vaidade, sede de poder e interesses econômicos têm levado pessoas a concorrer a cargos públicos eletivos. Em qualquer eleição o que prevalece na propaganda é o recurso financeiro. A doutrina, peça fundamental da propaganda, fica em segundo plano. Não havendo doutrina no programa de governo, o prefeito fica a mercê de pessoas que aproveitam a ocasião para tirar proveito.

Raramente pessoas que estão no poder usam a razão para tomar decisões. Tomam decisões que os favoreçam. Por outro lado, existem pessoas que deixam a vida pública por medo de ser envolvidos em escândalos administrativos ou desvio de recursos públicos. Se houve irregularidade não adianta correr. A Justiça pega.

A administração pública deve ser vista como um jogo de xadrez. Algumas vezes o prefeito fica em xeque. Outras em xeque-mate. Se ele ficasse em xeque-mate iria para o xadrez, se não fosse a Lei. Lei que protege o ex-banqueiro, mas não protege quem foi assaltado e não pagou suas contas.