As pessoas se agrupam
de forma aleatória por afinidades. Quarta-feira é dia de futebol na televisão
aberta. Mesmo tendo televisor em casa os torcedores se agrupam num boteco para
assistir o jogo com a turma. Outros têm preferência por literatura e da mesma
forma agrupam-se para conversar sobre obras literárias, notícias de jornais e ultimamente
o assunto é a nova ortografia. Ainda não encontrei alguém que tenha visto algum
benefício nesta nova ortografia.
Tenho dois grandes
amigos portugueses. Evidentemente eles falam português de Portugal. Tanto eles
como eu não aceitamos o Acordo Ortográfico assinado pelo Sr. Luiz Inácio, que
fala um idioma muito parecido com o português do Brasil. De nossas conversas e
trocas de e-mails, com amigos daqui do Brasil e de Portugal, passei a fazer
parte de uma plêiade. Com toda redundância, pessoas que querem salvar a língua
portuguesa.
Embora o General
Charles De Gaulle não tenha dito a frase “o Brasil não é um país sério”, por
ocasião de uma discórdia sobre a pesca de lagosta no litoral nordestino por
navios franceses, a frase ficou atribuída a ele.
Está frase sempre cai
bem quando se pretende tecer comentário sobre os destinos que os políticos dão ao
Estado brasileiro bem como aos municípios. A estatística diz que uma parte
significativa da população, talvez a maioria, não acredita nos políticos.
Entretanto, são eles que dão as ordens. Aqui entra a frase do De Gaulle.
O analfabeto não sabe
ler nem escrever, mas fala e entende português. O alfabetizado é fonte de
informação para o analfabeto. Se o alfabetizado fala errado o analfabeto aprende
errado.
Felizmente é coisa do
passado. Lembram-se quando o ex-presidente falava em público usando erradamente
a primeira pessoa do plural? No chão de fábrica, de onde supostamente ele veio,
a linguagem é esta mesmo: nois vai saí da fábrica às cinco e dezoito.
A língua portuguesa é
riquíssima. Entretanto, o português falado no Brasil está se deteriorando como
um peixe fora d’água. Talvez porque nossos dirigentes não falam corretamente
por falta de cultura. Todo político deveria ter o mínimo de educação formal da
língua portuguesa para falar em público.
Embora seja possível
enquadrar a palavra criada pelo Ministro do Trabalho do Governo Collor nas
normas gramaticais, o ministro foi motivo de chacota, pois ao invés de dizer
que o plano era imutável, ele disse era imexível. Palavra inexistente até
então. Coisas da neolexia e dos analfabetos.
Algumas revistas e
jornais escrevem o vocábulo “estado” tanto para um país soberano como para
explicar as condições em que se encontram um carro para venda. Neste caso a
nova ortografia não tem nada a ver. Apenas uma decisão do veículo de
comunicação. Escrever Estado anárquico é uma coisa e estado anárquico e outra. Veja
como fica esta frase na vigência da nova ortografia: agarrar o cão pelo pelo.
Querem suprimir letras
mudas. Neste caso o impacto é maior no português de Portugal. No Brasil é o
caso de ótica e óptica. O “p” de óptica não é pronunciado. Andando pela cidade
entrei na Ótica do Centro e perguntei quanto custa um aparelho auditivo. A
balconista respondeu que a Ótica do Centro só vendia óculos. Acredito que nem a
balconista e nem o proprietário da loja sabem que ótica refere-se a ouvido e
óptica para visão.
Nunca encontrei alguém
que aprove este Acordo Ortográfico. À época da assinatura do acordo os imortais
da Academia Brasileira de Letras se posicionaram contra. Exceto o professor
Evanildo Bechara. Ele acabou de editar a 37ª edição de seu livro “Moderna
Gramática Portuguesa”. Atualizada de acordo com a nova ortografia.