sábado, 10 de março de 2012

Ortografia


As pessoas se agrupam de forma aleatória por afinidades. Quarta-feira é dia de futebol na televisão aberta. Mesmo tendo televisor em casa os torcedores se agrupam num boteco para assistir o jogo com a turma. Outros têm preferência por literatura e da mesma forma agrupam-se para conversar sobre obras literárias, notícias de jornais e ultimamente o assunto é a nova ortografia. Ainda não encontrei alguém que tenha visto algum benefício nesta nova ortografia.

Tenho dois grandes amigos portugueses. Evidentemente eles falam português de Portugal. Tanto eles como eu não aceitamos o Acordo Ortográfico assinado pelo Sr. Luiz Inácio, que fala um idioma muito parecido com o português do Brasil. De nossas conversas e trocas de e-mails, com amigos daqui do Brasil e de Portugal, passei a fazer parte de uma plêiade. Com toda redundância, pessoas que querem salvar a língua portuguesa.

Embora o General Charles De Gaulle não tenha dito a frase “o Brasil não é um país sério”, por ocasião de uma discórdia sobre a pesca de lagosta no litoral nordestino por navios franceses, a frase ficou atribuída a ele.

Está frase sempre cai bem quando se pretende tecer comentário sobre os destinos que os políticos dão ao Estado brasileiro bem como aos municípios. A estatística diz que uma parte significativa da população, talvez a maioria, não acredita nos políticos. Entretanto, são eles que dão as ordens. Aqui entra a frase do De Gaulle.

O analfabeto não sabe ler nem escrever, mas fala e entende português. O alfabetizado é fonte de informação para o analfabeto. Se o alfabetizado fala errado o analfabeto aprende errado.

Felizmente é coisa do passado. Lembram-se quando o ex-presidente falava em público usando erradamente a primeira pessoa do plural? No chão de fábrica, de onde supostamente ele veio, a linguagem é esta mesmo: nois vai saí da fábrica às cinco e dezoito.

A língua portuguesa é riquíssima. Entretanto, o português falado no Brasil está se deteriorando como um peixe fora d’água. Talvez porque nossos dirigentes não falam corretamente por falta de cultura. Todo político deveria ter o mínimo de educação formal da língua portuguesa para falar em público.

Embora seja possível enquadrar a palavra criada pelo Ministro do Trabalho do Governo Collor nas normas gramaticais, o ministro foi motivo de chacota, pois ao invés de dizer que o plano era imutável, ele disse era imexível. Palavra inexistente até então. Coisas da neolexia e dos analfabetos.

Algumas revistas e jornais escrevem o vocábulo “estado” tanto para um país soberano como para explicar as condições em que se encontram um carro para venda. Neste caso a nova ortografia não tem nada a ver. Apenas uma decisão do veículo de comunicação. Escrever Estado anárquico é uma coisa e estado anárquico e outra. Veja como fica esta frase na vigência da nova ortografia: agarrar o cão pelo pelo.

Querem suprimir letras mudas. Neste caso o impacto é maior no português de Portugal. No Brasil é o caso de ótica e óptica. O “p” de óptica não é pronunciado. Andando pela cidade entrei na Ótica do Centro e perguntei quanto custa um aparelho auditivo. A balconista respondeu que a Ótica do Centro só vendia óculos. Acredito que nem a balconista e nem o proprietário da loja sabem que ótica refere-se a ouvido e óptica para visão.

Nunca encontrei alguém que aprove este Acordo Ortográfico. À época da assinatura do acordo os imortais da Academia Brasileira de Letras se posicionaram contra. Exceto o professor Evanildo Bechara. Ele acabou de editar a 37ª edição de seu livro “Moderna Gramática Portuguesa”. Atualizada de acordo com a nova ortografia.