sábado, 14 de janeiro de 2012

Virtude

Às vezes a vida é um manso lago azul sem ondas e sem espumas. Outras vezes é um mar fremente. Palavras retiradas do soneto de Júlio Salusse. Neste soneto o autor se refere à vida a dois. Tem como personagens um casal de cisne. Um amor eterno que pode passar por turbulência, mas jamais um abandona o outro. Após a morte de um cisne, o outro nunca mais canta, nem sozinho nada, nem nada nunca ao lado de outro cisne. Em síntese é isto. Cisne é o nome do soneto.

Assim também deveria ser o casamento das pessoas com a virtude. Diz o dito popular: Não basta ser honesto. É preciso deixar transparecer esta virtude chamada honestidade.

Nunca ouvi dizer que um presidente da república ou um prefeito tenha aberto investigações sobre possíveis irregularidades do governo anterior. Talvez porque não existia irregularidade. Talvez para dar continuidade à corrupção e à bandalheira.

Não faltam manchetes nos principais jornais sobre escândalos nas três instâncias do Poder Executivo e Legislativo. O grande campeão de denúncias continua sendo os dirigentes do Planalto Central. Em âmbito regional os prefeitos são os dirigentes que ocupam as manchetes. Nem sempre na primeira página.

O povo costuma dizer algumas frases de cunho popular, mas não tem a sabedoria de um ditado popular. Um destes ditos: achado não é roubado. É roubado sim, pois o objeto pertence a que o perdeu. O correto é entregá-lo à Polícia.

Outro dito: Todo homem tem o direito de errar. Ninguém tem o direito de errar. Os indivíduos humanos são passíveis de erro, mas não o direito. Se tivessem direito de errar não poderia haver punição.

O primeiro grande escândalo, que ocupou as primeiras páginas dos jornais, envolvendo o Poder Judiciário foi do juiz Nicolau dos Santos Neto. Popularmente chamado de Lalau. Como se sabe o juiz e o ex-senador Luis Estevão desviou milhões de reais durante o período de construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo.

Infelizmente, membros do Poder Judiciário estão ocupando as manchetes. “Juízes de Minas são acusados de favorecer colegas”. Manchete da Folha de São Paulo em 10 de janeiro de 2012. Favorecimento é o mesmo que ficar com o achado e não acreditar que é roubado.

“O ministro Ricardo Lewandowski do Supremo Tribunal Federal beneficiou a si próprio ao paralisar inspeção.”. Esta manchete refere-se ao fato do ministro estar entre os magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo que receberam pagamento, que estavam sob investigação do Conselho Nacional de Justiça.

“Lewandowski na flauta” é outra manchete. O ministro é revisor do processo do mensalão. Em dezembro, ele disse que nem havia começado a ler os autos e levaria meses e meses para preparar seu voto sobre o caso. A declaração pegou mal, já que a demora só interessa a petistas e mensaleiros, que tentam empurrar a decisão para 2013, conforme matéria do jornalista Fábio Portela.

Não dá para negar que, ao povo brasileiro falta muita cultura. O povo discute nos botequins o resultado dos jogos de futebol. Neste período do ano inflama as discussões do que pode acontecer no BBB. Em resumo, o povo sabe o que a televisão informa. O que a imprensa escrita relata e denuncia só as pessoas esclarecidas leem.

“Poe na virtude, filha querida de tua vida todo primor. Não dês à sorte, que tanto ilude sem a virtude algum valor.” (Domingos de Barros).

Se a virtude não acompanhar os magistrados, a esperança por justiça feita desaparece. Então a única coisa a fazer é tocar um tango argentino, como diria Manuel Bandeira em seu poema “Pneumotórax”.