domingo, 13 de março de 2011

Deletério

Existem tantas coisas que causam danos, que o espaço de um artigo é muito pequeno. É assunto para um livro, além dos que já foram escritos.

Marqueteiros têm a capacidade profissional de transformar algo ruim e nocivo em bom. Não existe mais publicidade de marcas de cigarro na televisão. Durante décadas o tabaco foi símbolo de homens de sucesso.

Viajava com um amigo no carro cuja marca ele era representante. Quando o carro ultrapassou certa velocidade, o ruído do motor aumentou significativamente. Fiz um comentário dizendo que o ruído era um defeito da marca. A perspicácia do amigo foi ímpar. Disse que não era defeito e sim uma peculiaridade da marca.

Algumas normas e leis brasileiras não são danosas. Elas têm peculiaridades próprias. Visitas íntimas para presidiários e indultos são atos que afrontam a sociedade, mas é tido como algo benéfico para recuperar um bandido. Em outros países presidiários ficam presos.

Já imaginaram se o PROCON recebesse reclamação por leis e normas má elaboradas pelos nossos dirigentes públicos e aplicasse a mesma punição que se aplica a um produto defeituoso e de má qualidade?

É inacreditável, mas o Congresso Nacional pretende realizar uma reforma política. Na verdade esta reforma não causará nenhum benefício à sociedade. Talvez sim. Deputados de partidos pequenos e de esquerda serão eliminados da Câmara. Francisco Everardo Oliveira Silva entra, mas quem conseguiu se eleger pelos votos de sua legenda não. Teoricamente é só isto. Fim do voto proporcional. Estão chamando de voto distrital, onde o distrito é o Estado. São Paulo teria setenta deputados.

Esta suposta reforma vem de encontro com os anseios do povo, que não concorda que um candidato bem votado não consiga se eleger. Outro com menor número de votos consegue. Mesmo com a divulgação da lei eleitoral, a maioria desconhece os critérios da proporcionalidade.

A eleição proporcional para deputados e vereadores favorece partidos pequenos e candidatos sem recursos financeiros. Caso ocorra a reforma, valorosos nomes que não conseguiram se eleger, mesmo tendo expressiva votação, pelo fato do partido não ter conseguido atingir o coeficiente eleitoral serão beneficiados.

Entre um sistema e outro é melhor extinguir o voto proporcional, uma vez que o povo escolhe o candidato e não o partido como querem estabelecer os caciques da política. Que entre o Tiririca e tantos outros, porque a escolha foi do povo. Como o próprio Deputado Francisco Everardo disse: pior do que está não fica.

Ainda não saiu nenhum comentário na imprensa se esta reforma vai atingir o Poder Executivo. Guardada as devidas proporções o presidente e o prefeito depois de eleitos governam como bem estendem. Para eles a lei é um detalhe.

Frase de Mário de Andrade em “Macunaíma” tem a grandeza de um lema: Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são. A saúde continua precária e é uma responsabilidade direta do chefe do executivo. Seria a saúva uma figura de estilo usada por Mário de Andrade? A figura da saúva não precisa ser exatamente o inseto que quando precisa de alimento sai em fila vai até a sua dispensa pega o que deseja e leva para sua sociedade. Pode ser o seu representante político.

Não é a reforma política que vai causar mal ao Brasil. Nem salvá-lo. Só a reforma íntima de cada pessoa pode mudar o comportamento de nossos políticos. Quem não leu dever ler um artigo de João Ubaldo, onde ele diz que o povo é a fonte de matéria prima das Câmaras.

Por ser prejudicial não é permitido propaganda de fumo na TV, mas propaganda política pode.