domingo, 26 de setembro de 2010

Modelo

Algumas palavras se explicam por si mesmas. Por definição ou por ser um axioma. Reta é um axioma. Não é possível definir reta sem dizer que ela é uma reta. Outras precisam explicar o significado para serem compreendidas.

Modelo é uma palavra que tem múltiplas definições. Pode ser o protótipo de um objeto destinado à fabricação industrial. Nathália Dill é modelo de beleza para muitos. Taís Araújo para outros. Será que ainda existe modelo de professor ou modelo de aluno?

Cabe discussão se o modelo “Progressão Continuada” aplicado na educação no Estado de São Paulo é ideal. O modelo foi idealizado na gestão de Luiza Erundina, em 1983, quando era prefeita de São Paulo pelo Partido dos Trabalhadores. O Estado de São Paulo só adotou em 1998. Progressão continuada é o modelo ideal de avaliar o aluno?

Não é possível enfiar goela abaixo, sobretudo porque tem que enfiar na cabeça, a imposição de que um indivíduo deva estudar e aprender. Estudar e aprender faz parte da educação adquirida na família. O dever do Estado é oferecer a escola.

Carlos Vereza fez uma citação muito interessante em seu blog. Ele falou da semelhança e da trajetória da vida de dois sindicalistas. Luiz Inácio e Vicentinho. Ambos sindicalistas e filiados ao Partido dos Trabalhadores. Ambos foram presidentes do Sindicato dos Metalúrgicos. O segundo traçou uma progressão em sua vida. Optou por estudar. Cursou uma faculdade de direito. O primeiro optou em ser empregado do partido e não estudar.

Vereza comentou também que atualmente todos reconhecem o carisma de Luiz Inácio. Então ele fez uma pergunta: onde estava o carisma de Luiz Inácio nas eleições para o governo de São Paulo em 1982? Eleições que ele perdeu. E nas eleições de 1989, 1994 e 1998? Se não fosse o marqueteiro Duda Mendonça o Luiz Inácio continuaria empregado e ninguém ficaria sabendo que ele é carismático. Já o Vicentinho é doutor, porque estudou.

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato, do remédio dependem das decisões políticas.” Palavras de Bertold Brecht, que morreu em 1959.

Existe outro lado que raramente consta nas pautas de discussões sobre modelo ideal de educação, cultura e ofício. A educação depende do Estado. A cultura é adquirida pelo nível de cada pessoa. Ler romance ou poesia é um hábito que não depende de graduação. Ofício é uma habilidade inata. Algumas podem ser ensinadas. Outras não. Como ensinar a fazer poesia ou música? Evidentemente não se aplica progressão continuada à medicina, engenharia e outros cursos que requer conhecimentos técnicos e científicos.

Doutor Ariovaldo fora médico e professor de biologia no I E Manoel Bento da Cruz em Araçatuba nos anos sessenta. Ele dizia que, nem sempre um bom professor seria um bom médico. E nem todo bom médico seria um bom professor. O que o Doutor queria dizer é que alguns professores têm conhecimento, mas não sabe ensinar.

Para ser professor do ensino público é necessário prestar concurso. Concurso mede conhecimento. Não mede habilidade de comunicação e domínio de atenção da classe. Não seria esta a falha do modelo progressão continuada? O aluno passa sem ter adquirido conhecimento. Além da possível inabilidade do professor, o mau aluno tem o Estatuto da Criança e do Adolescente para proteger seus atos de delinqüência juvenil.

O ensino deve ser gratuito para todos. Só não precisa ser público.