sábado, 14 de novembro de 2009

Brasileirismo

Fim de tarde numa padaria em Coimbra. Era sábado. Um grupo de brasileiros e outro de portugueses, enquanto bebericavam, falavam sobre assuntos diversos. Política é um assunto que trás discussões acaloradas. Na literatura, do drama chegou-se à comédia.

Um português resolveu contar uma anedota de brasileiro. Os brasileiros entreolharam-se e esperaram o que poderia vir. Perguntou o português aos brasileiros: sabes como os brasileiros trocam as lâmpadas do teto? Silêncio sepulcral. Completou o português. Um brasileiro sobe à mesa e quatro levantam a mesa e giram. Ele e os outros portugueses caíram numa sonora gargalhada.
Pairou silêncio por alguns segundos. O mesmo lusitano piadista fez outra pergunta. Sabes como um concertista brasileiro se acomoda ao sentar-se à frente do piano? Silêncio de cemitério à meia-noite. Ele próprio respondeu. Ele se senta e puxa o piano. Nenhuma graça, mas os portugueses morreram de rir da atitude do concertista brasileiro.

Oxalá os português engraçados não tenha lido uma matéria do jornalista Wesley Alcântara que, não faz muito tempo, a Folha da Região publicou sobre a impermeabilização de urnas mortuárias. Caixão de defunto.

“As funerárias de Birigui serão convocadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente para discutir a regularização da lei que exige a impermeabilidade dos caixões. A medida visa a combater a contaminação do lençol freático e do solo pelo necrochorume (líquido resultante da decomposição de cadáveres) e por tintas e vernizes, utilizados na fabricação das urnas funerárias”. Assim disse Wesley.

Terça-feira houve interrupção do fornecimento de energia elétrica. Embora a língua portuguesa tenha um vocabulário rico, “apagão” não é um termo técnico para definir em linguagem científica a interrupção da energia elétrica. Tão pouco “apagão” aéreo.

A imprensa, no seu papel, procurou informações. Ao procurar informações encontrou um ato de brasileirismo. O chefe de energia elétrica no Brasil não entende nada de eletricidade. É um político. Político é igual papagaio. Não sabe nada, mas fala tudo. O Ministro de Minas e Energia não sabe de nada e o Presidente da República também não, mas desculpas eles deram.

Esta é a tônica do problema de administração pública. Pessoas certas não ocupam o cargo certo.
Foi criado em Birigui a Secretaria do Meio Ambiente. Enquanto o Departamento de Estrada de Rodagem do Estado de São Paulo desvia rodovia para não derrubar árvores, a Secretaria do Meio Ambiente de Birigui autoriza derrubar três Ipês.

“Vamos chamar os representantes das empresas para discutir as medidas de cumprimento da lei. Será uma contribuição necessária para a preservação do lençol freático. Acredito que as funerárias vão contribuir com o caso em debate”. Assim disse o secretário do meio ambiente Milton Paulo Boer.

A Câmara de Vereadores de Birigui aprovou uma lei que determina que as urnas mortuárias sejam herméticas. Será que o autor do projeto procurou saber se existe no mercado caixões de defuntos herméticos?

Em Portugal tudo é diferente. Não precisa de cinco pessoas para trocar a lâmpada. Somente uma pessoa troca a lâmpada. O pianista senta-se e aproxima o banco ao piano.

Em Portugal não existe urna mortuária hermética. Lá os túmulos são impermeáveis. Em Portugal eu não sei, mas em um Pasargadas há um departamento para cuidar do meio ambiente. O rei é contra a existência de Secretaria. Em secretaria há políticos. Papagaios que nada sabem. Em departamentos há profissionais