domingo, 26 de julho de 2009

Permissividade

Permite-se muito para alguns e quase nada para outros. Se uma empresa deixar de pagar impostos, previdência social, Fundo de Garantia ou qualquer tributo, o Estado notificará a empresa da falta de pagamento e os fiscais aparecerão para tomar as medidas de praxe. Visita totalmente correta. Esta é uma função do fiscal. Verificar se todos os impostos, taxas ou tarifas estão sendo recolhidos.

Futebol não é mais esporte. É negócio. Esta semana dois jogadores do Corinthians foram vendidos para jogar futebol em algum país da Europa. Vendidos como se vendiam parelhas de bois carreiros, escravos fortes para o trabalho ou gladiadores para distrair os romanos. Jogadores de futebol são gladiadores dos tempos atuais.

Empresas que produzem produtos de consumo para a sociedade vão à falência por endividamento. Por que clube de futebol não vai? Clube de futebol não é mais uma associação que promove esporte. É uma empresa que vende entretenimento. Por que os clubes não são cobrados judicialmente pelas dívidas fiscais? E os encargos trabalhistas?

Talvez o motivo seja político. Existem empresários que contribuem, com altas somas, para as campanhas políticas. Fazer doações para campanhas políticas não é crime. E é de suma importância para candidatos que tem bons propósitos, mas não tem plataforma política. O que ganha eleição é muito dinheiro ou plataforma política. Plataforma política é essencial para candidatos aos Poderes Legislativos. Municipal, estadual e federal. Para o Poder Executivo o capital é fundamental. Plataforma política é um palanque pronto. Uma estrutura armada para que o candidato seja eleito. Não importa quem seja o candidato.

Talvez o motivo seja político. Conhecem aquela pergunta? Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Fernando Sarney além de ser filho do senador, é diretor da Confederação Brasileira de Futebol. Segundo notícias da grande mídia, a CBF doou R$ 100 mil à campanha de Roseana Sarney, em sua campanha para o governo do Maranhão em 2006. Quem nasceu primeiro: o político que se interessa por dirigir os clubes de futebol e as federações ou são os clubes e federações e a confederação que precisa de um político para manter seus interesses longe dos olhos dos fiscais e da polícia? Nos últimos vinte anos quem dirigiu o clube de futebol profissional de sua cidade? A regra é clara, como diria o comentarista, um político de carreira. Ou um assecla dele.

Todo ato ilícito dever ser denunciado. A imprensa tem papel fundamental divulgando para a sociedade tais atos. O que ocorre com pouca freqüência é a interligação de um ato com outro. É o caso da família Sarney, que está há décadas no poder. E somente agora o povo fica sabendo que o futebol dá ajuda financeira a políticos. Não punir, é permitir que a banda podre da sociedade tenha seus interesses preservados.

Não punir um ato ilícito, é legitimar outro. Da mesma forma que os clubes de futebol e suas federações não são punidos, o povo assim se espelha neste mundo de fantasia. Não há limites para os torcedores. Não se preocupam com os bastidores da administração, mas apenas e tão somente com o campo de futebol. Lotam os estádios e a transmissão pela televisão tem audiência garantida. Para os clubes o propósito não é o esporte. É o faturamento. O povo é permissível. Permite ser enganado.

A permissividade é um ato de aceitar desculpas de erros. Um jogador não tem argumento para explicar a perda de um pênalti. Quantas equipes perderam o campeonato porque o gol não foi marcado na decisão por pênalti? Foi porque o jogador errou ou porque tudo estava armado?
O futebol parece uma paródia da política. Ou o contrário. Paródia é um ato arteiro de imitar outra obra. No futebol contratos milionários. Na política gastos milionários com criação de cargos e contratação de parentes e namorado de neta.

Houve um escândalo no Corinthians. O presidente foi deposto, mas a polícia não o prendeu. O estatuto do idoso não permitiu. Idoso pode cometer crime a vontade.

O Presidente da República disse que é preciso ler a biografia das pessoas para moderar a acusação. Referindo-se ao Presidente do Senado.

Permissividade é isto. O crime compensa.