sábado, 4 de outubro de 2008

Comensal

Comensal é uma palavra que dá para tirar algumas interpretações. Uma delas é a etimológica: pessoas que comem juntos à mesa. Existem aquelas pessoas que sempre chegam em casa na hora daquele churrasco, ou até das refeições cotidianas. Não perdem nem o café da manhã. Neste caso não tem o sentido pejorativo, normalmente é alguém muito próximo. Pejorativo é o comensal que vive à custa alheia. Um verdadeiro parasita. Se fosse uma simbiose não seria pejorativo.

Em ecologia o termo também é usado. É quando duas ou mais espécies de animais vivem associadas num mesmo ambiente e uma não prejudica a outra.

Existem nas programações de algumas emissoras de rádio, à disposição da população, professores de português que tiram dúvidas sobre nossa língua. Eu estava ouvindo um professor, que estava tirando a dúvida de uma ouvinte. A dúvida era: qual o significado de comensalista. Ele deu as devidas explicações sobre a origem etimológica, que vem de comensal. Esta palavra não consta em nenhum dos dicionários que tenho. Ele disse que é um termo usado em ecologia e se refere à cadeia alimentar. Todo mundo sabe que existe a cadeia alimentar para que haja equilíbrio ecológico. Cada animal come o seu “prato” predileto. Segundo o professor, é o caso dos animais de espécies diferentes, que vivem no mesmo ambiente e um come o alimento da cadeia do outro. O fato de comer alimento fora de sua cadeia alimentar pode causar distúrbios nestes animais. Assim disse o professor de português.

Cientificamente não sei se ocorre. Dizem que onça não come gente. Lambari tão pequeno come um peixe menor. Será que tubarão come lula? O bicho banqueiro não come.

A vida em sociedade não é bem assim. Mas não difere muito. Pessoas da mesma espécie vivem juntas, mas são diferentes. Alimentam-se de formas deferentes. A cultura e a educação de cada um são diferentes.

Em política cultura e educação não são pré requisitos para ocupar cargos. Em 1990, um sindicalista eletricitário, que virou ministro, criou a palavra imexível. Aqui se aplica a teoria comensalista. Mexeram e comeram em prato alheio. A palavra não foi criada por um professor, nem por um escritor. Foi criada por alguém que não sabe português. Quem perde é a língua portuguesa. Não é o caso das gírias. Palavras são criadas a todo instante. Sem agredir nossa língua portuguesa.

Quem assinou o acordo da nova ortografia da língua portuguesa? Um sindicalista que se vangloria por não ter estudado e ter chegado onde chegou. Na cadeia alimentar da cultura e educação não é o governo que deve se fartar sem ouvir a Academia Brasileira de Letras, ou inúmeros autores e professores. Ao invés de ensinar o povo a escrever corretamente, optou-se por decretar que o certo é o que povo escreve. Exceto às pessoas que vivem em nossa região, quem vai saber pronunciar a palavra Birigui?

Por outro lado, pessoas da mesma espécie têm comportamento alimentar diferente. Alimento que sustenta o poder. Cadeia alimentar é assim. Cobra come rato. Gavião come morcego. Rato rouba alimento e morcego precisa de sangue.

Se a crise americana fosse aqui, não haveria crise. O mensalão é uma forma do rato se alimentar. Os sanguessugas utilizam a saúde para troca de votos ou favores. Com um simples aceno o governo aprovaria a ajuda aos bancos americanos.

Não importa se a decisão foi certa ou errada. O que importa, é o que transpareceu. Os deputados americanos não são comensais da Casa Branca. Não aprovaram o pedido de ajuda, com recursos públicos, que o governo daria aos bancos.

Se a Casa Branca tivesse feito estágio no Palácio do Planalto tudo já estaria resolvido.

Benute Santos
Publicado na Folha da Região em 04.10.2008