domingo, 21 de setembro de 2008

Reclame

Você pode reclamar, mas não adianta nada. Você vai ter que assistir inúmeros reclames no rádio e na televisão pagos com o dinheiro, que você suou para ganhar. Eleição só serve para aquecer o mercado publicitário. Até profissionais que não são publicitários ganham dinheiro fazendo reclames sobre o candidato ou partido, em tempo de eleição.

O termo reclame não é mais usado para designar uma peça publicitária. Só no bordão do Faustão: depois dos reclames do plim plim vem aí a maior atração de todos os tempos. Mesmo que seja um ilustre desconhecido. Na eleição também é assim: vem aí o melhor candidato de todos os tempos com propostas para solucionar todos os problemas da cidade.

Existe agência de publicidade, que por princípios éticos, normalmente não faz campanhas publicitárias para candidatos. A razão é simples: nem sempre é possível vender a imagem do candidato. Sobretudo pelo fato de que a maioria dos candidatos tem o nível cultural e intelectual abaixo do mínimo necessário e do publicitário. E nem todo publicitário consegue abaixar o seu nível para conviver alguns meses ao lado de tais pessoas.

Escrever artigos, crônicas é bom. O autor expressa o seu ponto de vista. Não é jornalismo. Sobretudo jornalismo investigativo. Felizmente o Ministério Público lê artigos e crônicas, e em casos pertinentes tomam as devidas providências. A Polícia poderia fazer o mesmo. Investigar irregularidades, mesmo que não tenha havido denúncia. Desculpe. Má proposta. O policial pode ser preso por cumprir seu dever, ou afastado do cargo. O pessoal dos direitos humanos pode não gostar, e eles tem acento no Planalto Central do Brasil.

Que o supermercado “A” faça reclame de seus preços para que o consumidor faça comparação com os preços do Supermercado “B” e compre os produtos com melhor preço é normal e saudável para a economia doméstica. É assim que funciona a lei da oferta e procura.

Todo mundo sabe que a Petrobrás tem o monopólio de extração e refino do petróleo, embora existam os contratos de risco, por que ela faz reclame de seu produto se não é possível comprar petróleo em outra empresa?

O mesmo se aplica à SABESP. Na cidade de São Paulo é possível comprar água encanada de algum outro fornecedor que não seja a SABESP? E o esgoto? É possível puxar a descarga e jogar em algum cano que não seja o da SABESP?

Existe agência de publicidade que não fazem campanhas publicitárias para candidatos nem reclames para empresas estatais. Nem para o governo.

Por que os governos das três esferas gastam dinheiro público com publicidade? A Prefeitura vende o que? A Presidência da República vende o que?
Reclame. O dinheiro da Prefeitura e da Presidência da República usado para pagar a publicidade é retirado da receita advinda dos impostos que o povo paga.

Reclame também das eleições. A cada intervalo da programação da televisão uma moça, ou uma personagem grávida, explica o quanto é importante votar e como votar. Para que tais reclames? Se o desinformado cidadão não sabe escolher seu candidato também não saberá votar. Se há um “voluntário”, convocado pela Justiça Eleitoral, na seção para atender e auxiliar o eleitor, por que reclame em todos os intervalos das programações da televisão? Não precisa de publicidade. Esta publicidade, desnecessária, pode ser fonte de renda para alguém. Alguém que está tirando proveito do erário público.

Reclame. Você não pagou somente a publicidade do governo. Quem pagou os reclames do supermercado A foi você e da Petrobrás também. A publicidade está no preço do produto que você e eu compramos. Nós financiamos tudo. Publicidade do governo, que em certos casos torna-se propaganda. Financiamos a compra da casa própria e do carro. Quem pode paga escola para que seu filho tenha boa instrução. Quem não pode matricula seu filho na escola pública. Quem pode paga plano de saúde. O povo usa o Sistema Único de Saúde. Eles não pagam e nem financiam nada. Eles desfrutam de tudo. Quem são eles? Os eleitos.

Todos têm liberdade de expressão. O candidato pode falar o que quiser. Por que nós temos que pagar para ouvir promessas que o candidato faz, mas que não poderá cumprir porque não é competência do cargo que pleiteia? Como todos têm direito de expressão, por que não chamar os candidatos ignorantes à luz da razão?