sábado, 15 de janeiro de 2011

Luzes

Quando o espetáculo acaba as luzes do palco se apagam. O palhaço tira sua maquiagem, troca a fantasia pelo pijama e sua vida continua no anonimato. Não é mais o centro das atenções no picadeiro.

Parece contraditório, mas é no passado que se alicerça o futuro. As luzes se acenderam no século que se seguiu à idade das trevas. A Idade Média cedeu lugar ao Século das Luzes. Ninguém pode negar que o Iluminismo, como o próprio nome se define, iluminou o pensamento de grandes escritores, políticos e filósofos. Uma revolução intelectual que motivou mudanças na política, na economia e na sociedade.

No Brasil, as luzes influenciaram a Inconfidência Mineira. Foi neste período que surgiu uma expressão tipicamente mineira: UAI. Segundo historiadores mineiros, boa parte dos inconfidentes eram maçons. Como se diz por aí, eles têm seus segredos. As reuniões dos inconfidentes também eram secretas. Para entrar no recinto combinado, o inconfidente batia na porta de certa maneira. Do lado de dentro perguntava-se: Quem vem lá? A resposta deveria ser UAI, que era a senha. UAI são as iniciais de União, Amor e Independência.

Nas colônias britânicas, o maior acontecimento sob a influência das luzes foi a independência dos Estados Unidos da América.

Foi na França que as luzes marcaram sua real presença culminando com a Revolução Francesa, cujo lema era Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Frase do iluminista Jean-Jacques Rousseau. Embora a revolução tenha aniquilado o absolutismo monárquico, tornou-se, posteriormente, um flagelo para sociedade francesa.

Para os iluministas, o homem é naturalmente bom, mas é corrompido pela sociedade com o passar do tempo. O mesmo acontece com pessoas que assumem o poder. Assim foi com os revolucionários. Derrubaram o absolutismo, criaram a Declaração dos direitos do Homem e mergulharam, em seguida, a França numa ditadura sangrenta.

Voltaire era monarquista e deísta. Ele afirmava que para chegar a Deus não era preciso passar pela Igreja, e sim usar a razão. Deísta é a pessoa que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus. Evidentemente rejeita qualquer religião. Como nem todos são iluministas, melhor seguir uma religião.

Pouco importava aos iluministas se a pessoa era monarquista ou republicana. O que importava era tornar o mundo melhor. Também não admitiam falta de cultura entre os dirigentes públicos. Razão porque alguns deles se mantiveram monarquistas, pois os monarcas eram educados para exercer o cargo. Na república não precisa estudar e nem ter cultura.

Luzes se apagaram. Nossos políticos não pensam em tornar o mundo melhor. A Prefeitura de Birigui saiu, unilateralmente, do Consórcio Intermunicipal de Saúde. Contrariando a posição dos médicos, que queriam a permanência do município no Consórcio. Outra decisão da prefeitura. A Santa Casa não vai mais atender pacientes de outros municípios. Os argumentos alegados não convencem. Ato típico de quem caminha nas trevas.

Enquanto dirigentes de saúde, iluminados pelas luzes da sabedoria, cuidam da saúde da população de Araçatuba e de toda a região, em Birigui estas mesmas luzes estão se apagando.

O Secretário de Saúde não conhece o que é Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Conclui-se que o prefeito e seu secretariado também não. Ou não é conveniente, a eles, lembrar e pôr em prática estes augustos ensinamentos iluministas.

Quando as luzes se apagam, o palhaço sabe que deve tirar a maquiagem, trocar a fantasia pelo pijama, pois seu picadeiro será o anonimato.